quarta-feira, 26 de março de 2008

Conto divino...

Alguns me perguntam de onde eu tiro os meus contos... não os tiro de lugar algum, eles brotam perante meus olhos, esses pobres olhos despreparados e desacostumados com as peculiaridades da realidade. Mas hoje percebo que existem exceções... existe também o dia em que algo brota dentro de minha cabeça, e a aula de Física Moderna de hoje, tal como antigas piadas de físicos, são um bocado inspiradoras. Após ver mais transformações de Lorentz para a relatividade restrita e ter uma breve introdução à relatividade geral, conhecer o cone de luz, fora do qual não conseguimos chegar, e ouvir as piadas do nosso querido professor Lucinda, concluo que tenho que escrever algo. Não que sirva para as gerações posteriores, mas porque eu preciso descarregar minha mente.

No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus. Talvez seja, afinal, a lingüística a primeira ciência (se me permitem chamar assim). E disse Deus:


E houve luz. (...) e criou Deus o homem à sua imagem real (invertida) e semelhança e, para se redimir, criou a mulher. Dizem que usou uma parte do homem apenas para demonstrar que ele poderia fazer o que queria a partir de qualquer coisa. Disse ao homem e à sua mulher: "De qualquer árvore do jardim poderão desfrutar, menos da árvore do conheimento do bem e do mal, pois ela fica fora do cone de luz, região que lhes proíbo". Sim, a ordem estava dada e fora bem acatada. Mas nem tudo é como deveria ser. A oposição, sempre venenosa, enviou sua serpente para lançar a semente do mau entre os pobres humanos, que nada entendiam de física. Dizia ela "Ele apenas proibiu a árvore do conhecimento pois, à velocidade da luz, vocês seriam como ele!". Implementou então a mulher seu próprio acelerador de partículas com árvores silvestres e comeu do fruto proibido. Apreciando o suave sabor que tinham todos os 300.000.000 de metros por segundo, levou o fruto ao homem, que também comeu. A terra se escureceu e Deus perguntava "Onde estão vocês?", e eles diziam "Estamos escondidos pois, à velocidade da luz, somos invisíveis". Então a ira de Deus desceu sobre eles e eles foram expulsos do paraíso. Disse Ele:

"Nunca mais retornarão ao grande Éden! Você, mulher, que atendeu à oposição, nada mais terá de nosso favor. Serás condenada à tabela do ciclo menstrual e às espinhas provenientes destes hormônios! Terás a gravidez de 9 meses e seu filho nascerá com cara de joelho, mas mesmo assim o acharás lindo. Te envio a um mundo com baratas e taturanas, e o homem lhe será não mais o companheiro e sim o consumidor da cerveja e telespectador de futebol. Homem, o amaldiçoo com pêlos volumosos que cultivarás e amarás com sua masculinidade. Sentirás necessidade de ser aprovado pela sociedade como macho com seus músculos, seu odor de comida estragada e sua forma peculiar de coçar certas partes de seu corpo. Sua mulher terá TPM e levará vinte e cinco vezes o tempo que você leva para se arrumar e continuará se achando feia. E você é o responsável por fazê-la se sentir melhor, mesmo que nunca consiga. Terão de apreciar novelas de finais idênticos e terão citologia no ensino básico. Lanço também sobre a terra os políticos que haverão de cobrar-lhes impostos sobre tudo quanto tocarem, farão propaganda em horário gratuito e te entregarão panfletos recheados de conversas sem sentido sobre desenvolvimento e crescimento econômico, tal como promessas de emprego. Terão de suportar o pagode dos vizinhos, tal como conviver com os emos e outra criaturas das trevas. Lançarei sobre vocês a relatividade e os aprisionarei no cone de luz para que nunca mais toquem no divino. Rastejarão por recursos e serão vitimados pelo REUNI e pelas frases de efeito de presidentes que falam palavrões em frente a câmeras. Terão que arcar com as rádios country e com o Brizolla. Agora vão e se espalhem sobre a Terra. Dividirão espaço com os químicos e os engenheiros e até mesmo a proporcionalidade entre força e aceleração será questionada."

Certo, parei por aqui. Eu sei que deveria estar estudando ou fazendo qualquer outra coisa mais saudável, mas foi um desabafo e tanto. Sem mais por hoje.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Interbairros II (II)

Eu estava realmente curioso para saber quais eram os 40 vídeos que estavam no meu orkut, afinal, eu não pus tantos assim. Saí olhando um a um e citando-os mentalmente "Bom... uhum, esse é legal também... divertido... hehehe, sacanagem" e assim por diante, até que cheguei à última página de vídeos. Adivinha? Ao invés de uma página contendo os vídeos de 36 a 40, era uma página de 16 a 20. Superfaturamento? Caixa 2 de vídeos? Será que o Orkut declara imposto frio e precisa de números diferentes? Será que eles precisam atingir alguma meta governamental educacional e só duplicam o número para convencer o povo de que há mais vídeos para a campanha? Seja lá como for, foi curioso. Mas esse assunto ignóbil que provém das patranhas alheias me traz devolta ao reduto do inimaginável, aquele famoso lugar onde tudo é possível, onde você encontra todos os tipos de pessoas, de todas as classes. Lá onde você experimenta as emoções mais incomuns com freqüência notável, sonha com a compra de um carro, dá graças a Deus quando sai e, mesmo assim, volta no dia seguinte. Duas vezes. Sim, estou falando do Interbairros II, a grande máquina de transporte, o vulgo verdão.

Dentro desse ônibus você sempre pensa estar preparado para qualquer coisa, mas sempre se surpreende por uma série de motivos: ele passa em frente ao Centro Politécnico, ou seja, recolhe os alunos de Física (isso fala por si só) e passa por cantos dos mais variados da cidade, desde o Cabral até o Capão Raso. E era lá que eu estava quando outra pitoresca me aconteceu...

A bordo do ônibus havia uma série de pessoas, entre elas Martynetz (meu nobre camarada físico), Daniel (aquele da pilha) e eu (eu mesmo), o trio que se entretem por muitas vezes em conversas das mais relevantes como, por exemplo, o formato dos processadores da década de setenta e etc. E estávamos em uma bela conversa sobre clocks e bitrates quando eu, perceptivo que sou, passei a observar o ambiente: o ônibus estava parado e as pessoas discutiam. Teria alguém lançado a semente da discórdia dentro de tão venerável ambiente? Passei a observar atentamente a conversação alheia até que, sublime em meus sentidos e capacidade de dedução, anunciei com o garbo condizente à força representada pelo fato ocorrido ao nosso redor: "Cara, o ônibus foi assaltado!".

Sim, entrou um homem com uma arma à cintura acompanhado de outro que tinha uma língua à boca e falava. Ao que tudo indica, ele se dirigiu aos passageiros da frente e interlocutou no sentido de que eles deveriam "entregar tudo que tinham ou tomavam bala". Também se comunicou com o motorista, solicitando uma parada no próximo ponto para que ele e seu companheiro descessem. Enfim, tudo muito rápido.

Os físicos falavam a respeito de assaltos agora. O ônibus falava sobre assaltos e o motorista falava ao telefone sobre assaltos para a polícia. "é necessário aguardar para fazer o Boletim de Ocorrência" disse o cobrador, ao passo que o rapaz ao meu lado dizia "Tá, como não me roubaram nada, eu vou descer e esperar o próximo ônibus. Pensava eu sobre o egoísmo das pessoas, alguns foram roubados, outros estava preocupados em chegar logo em casa para descansar. Absurdo. À chegada do próximo ônibus, corria eu para a porta.

Curioso não era o fato de o ônibus seguinte ficar cheio das pessoas que 'sobreviveram' ao assalto (deixando os assaltados, o motorista e o cobrador sozinhos), mas sim as conversas ouvidas no caminho. Tão interessantes que voltamos a falar sobre os processadores. Eu tinha pensado em algum ensinamento bonito acompanhado de uma lição de moral pra tirar dessa história, mas eu esqueci. Nesse caso, fica só a história mesmo.

domingo, 16 de março de 2008

Aucgi

Bom, esse é um texto com algum propósito, ao contrário de outros. Começo-o por um motivo bastante simples: vi uma amiga minha fazer isso e achei bonito. "Flubber®, você está copiando a idéia de outra pessoa?"... a resposta é "Sim". Não, eu não tenho vergonha de assumir, meu lado masculino não me deixa mentir sobre essas coisas. Aparentemente, esse será o único texto que não insultará ninguém, não satirizará nenhuma classe e não buscará fatos esdrúxulos para comparar as coisas, como, por exemplo, citar que a capa do Super Homem é horrível para sua aerodinâmica. Tá, eu não 'ia' citar nenhum fato esdrúxulo, agora já foi.

"Mas afinal, o que esse título esdrúxulo significa?" aí, chegaremos ao ponto. Aucgi é o nome que dou à história de um mundo inteiro. Chamo de Aucgi o ser dotado de seu raciocínio, de sua grandiosidade em organização, suas falhas emocionais e sua ausência completa de dotes divinos, o ser comum, trivial, sujeito ao meio e às próprias escolhas, boas ou não (e, inclusive, questiono até que ponto uma 'boa escolha' é realmente boa, e de que ponto de vista). Chamo de Aucgi aquele que esqueceu seus ideais para buscar satisfazer a própria alma, aquele que sonha com o futuro e, muitas vezes, é obrigado a abandonar seus sonhos por forças maiores. Sim, Aucgi é o ser humano. Ou "serumano", como diria alguém em redação de vestibular. Tá, isso não foi conveniente, mas foi irresistível.

Separo a história em 2 eras principais: a era Pré Agion e a era Pós Agion. Agion é um mago que construiu seu renome. Discípulo do grande mago Siron e colega de outro grande mago, Filipe, Agion é o finalizador de uma guerra e o gatilho de outra, separando, assim, duas eras da magia do mundo dos Aucgi, dividindo opiniões a respeito de seu caráter por muitas vezes, mas sendo lembrado como o herói que salvou o mundo da desgraça dos monstros, dos quais trato na história, e criando a única forma de controlar os camaleões, as criaturas das trevas que amedrontavam o mundo. Em resumo, Agion mudou por completo a forma da sociedade e originou uma cadeia de fatos de enorme repercussão, sendo ele quem me aventuro a descrever primeiro ao longo da história.

A era Pré Agion é obscura e assustadora, tendo os magos como grandes mentes dos reinos, manipulando politicamente tudo que acontecia. Dessa era, destaco alguns fatos importantes: a ascenção da família Plennus, que marca completamente o reino de Thornum, com 4 gerações consecutivas de magos poderosíssimos e de inteligência militar incrível; a ocupação do vale de Entre-Metais por Siron, acompanhado por um grupo nômade que passa a uma cultura sedentária (tribo de onde surge Agion); a ascenção dos "Lobos", grupo de magos liderado por Solos Fausto que tem por objetivo agrupar conhecimento mágico e desenvolvimento da cultura dos magos, com o objetivo de aprimorar a magia existente; a formação do reino de Actadeon, reino marcado pelo incrível avanço tecnológico e pelo domínio das mais variadas técnicas de navegação; o desaparecimento dos dragões, criaturas mágicas com algumas características divinas perseguidas por magos.

A era Pós Agion é o marco da consciência do povo sobre o perigo que os magos representam, a separação de Plennus do reino de Thornum e a instituição de Plennus não mais como uma família, mas uma organização que regulamenta os magos e cuida para que o povo esqueça-lhes a existência. Basicamente, Plennus e os Lobos guerreiam para resgatar Cionngi, o feito supremo de Agion cujo funcionamento poucos entendem, mas uma arma poderosíssima que talvez pudesse definir o novo governador do mundo. Essa é a parte da história que narro ao longo da minha dissertação, do ponto de vista de um personagem que acompanhou alguns fatos e pesquisou muitos outros para trazer à tona a existência dos magos e seu comportamento medonho e manipulador. O narrador por muitas vezes manifesta sua opinião pessoal e não oculta que não tem pleno conhecimento dos fatos, mas se recusa em revelar boa parte de suas fontes por temer pela própria segurança. Quanto a sua identidade, obviamente ele protege a sete chaves, pois ele contraria interesses de magos extremamente influentes. Curiosamente, esse narrador tem uma cosmovisão muito parecida com a minha, mas não idêntica. Tá, é intencional, mas não conta pra ninguém.

A intenção dessa história é revelar minha opinião a respeito da sociedade, do ser humano, da política, da guerra e, acima de tudo, das relações interpessoais, que começo a abordar apenas depois da narrativa da vida de Agion.

Personagens destacados:

Agion: obviamente o que mais menciono, Agion é um mago recheado de mistérios e de mente turbulenta, um homem que abandonou seus ideais de um mundo melhor e buscou apenas concluir um objetivo pessoal, que ele alega ser matar uma pessoa.

Siron: Mago cativante e assustador, inspirado no Dumbledore de Harry Potter, mas um tanto menos amigável, possuidor de conhecimento imenso e fabricante de apetrechos mágicos, certamente é o personagem mais intrigante da história. Seu passado é obscuro e não revelado e não se importa com o próprio futuro. Gosta de ensinar pessoas a se tornarem grandes praticamentes de magia e gosta de idealistas, mesmo que não seja mais um. Muitas vezes tem um comportamento infantil e diz coisas que não se espera de uma pessoa que já viveu tudo o que ele viveu.

Filipe: O melhor aprendiz de Siron. Diferente de Agion, que tem algo mágico sobre sua mente que o direciona a aprender magia, Filipe é esforçado e sonha em se tornar um mago de renome. Suas aparições ao longo da história revelam um garoto e um homem diferente da maioria dos magos: possui ideais, valoriza suas emoções e se preocupa com os amigos, entre eles Agion, que cresceu ao seu lado.

Lucius Plennus: Filho de Octavius Plennus, Lucius Octavianus Plennus é certamente o mago mais poderoso conhecido no mundo. Não revela seus métodos e sempre foi excelente estrategista militar, se tornando facilmente conselheiro do rei de Thornum. Sua índole é questionável.

Pietro Arcanjo: Personagem misterioso que chocou a sociedade contemporânea com seus assassinatos monstruosos e perseguido por todas as organizações mágicas por motivos ocultos. Pietro é o cheque mate da história.

Sinatra Arcanjo: Certamente o personagem mais marcante entre os não magos. Primo de Pietro Arcanjo, fica encarregado de investigar o intrigante "Caso Pietro", mas recebe a ordem de abandonar o caso. Insatisfeito, conduz uma investigação por conta própria e descobre uma movimentação mais poderosa que a máfia. A investigação de Sinatra inspira o narrador da história.

Aqueles que acompanharem a história certamente farão comentários jocosos a respeito da quantidade de sangue derramado, mas a ênfase está em seres poderosos que lutam por interesses e entram em guerra, o sangue é só o combustível de um cenário como esses.

Enfim, esse é o teaser de Aucgi. Certamente se eu publicá-lo, registrarei por aqui.

A história humana? Sim, uma constante guerra não declarada. Trata-se de uma grande poesia épica repleta de falsidade, baseada em suor não recompensado e escrita com sangue inocente.

sábado, 15 de março de 2008

Interbairros II

Vou ser franco, tanto quanto o possível: eu não gosto de padrões. Não gosto da etiqueta, não gosto do marketing musical e, por vezes, não gosto dos bons costumes. Aceito tudo isso e até mesmo uso, mas questiono-lhes a utilidade. Mas acho que até para essa rebeldia existe um limite. Existe um ponto que o desprezo dos padrões passa a ser um padrão, o sujeito não se preocupa mais com o fato de padrões atrapalharem sua vida, mas se preocupa em simplesmente não ter padrões, conseqüentemente, atrapalhando a própria vida. Não gostaria de citar nomes pois acho isso muito feio (Marilyn Manson), mas acredito que muita gente saiba o que eu quero dizer.

Mas existe um lado interessante da moeda: a pessoa que não se preocupa em combater padrões, ela apenas não os tem, apresentando um comportamento pouco peculiar, a exemplo do cara que teve a idéia brilhante de entrar para o curso superior de Física ("Eu adoro Física!"). Falo de gente que não se preocupa com a opinião dos outros na rua, não se preocupa com a opinião de seus pais, não se preocupa com a opinião do chefe no trabalho, não se preocupam com a própria opinião, apenas fazem aquilo que surge-lhes a fazer. Óbvio que isso me remete a um fato interessante do meu dia-a-dia, eu, pobre aspirante a físico perseguido por forças do além que insistem em trazer as criaturas mais excêntricas (para não dizer pitorescas) para perto de mim. Nesse caso em específico, sentado do meu lado dentro do ônibus.

Quando entramos em um ônibus a caminho de casa, nós, típicos curitibanos, temos o hábito de pouco olhar ao redor. Estava eu sentado no ônibus Interbairros II, a maravilha verde da cidade de Curitiba, quando ele surgiu: calça jeans, mochila nas costas, um aparelho eletrônico com fone de ouvido (não sei que aparelho era aquele) e um ar inocente, pedindo licença para ocupar o lugar vago ao meu lado. Eu abri espaço para sua passagem, como sugerem as políticas de boa vizinhança nas ruas, mas foi inocência, juro. Começou de forma simples.

Quando ouvi o primeiro som, achei que viesse de fora do ônibus. Em seguida, achei que fosse o fone de ouvido do rapaz (essa juventude ouvindo músicas a todo o volume... francamente). Em seguida, joguei todos os meus conceitos fora, o som vinha da boca do rapaz, e ele gesticulava. Ele fazia o som de um disco sendo riscado na pick up de um DJ (e gesticulava como se o riscasse), mexia botões imaginários fazendo efeitos sonoros mirabolantes e, em seguida, começou a fazer o som de uma bateria. Obviamente não pretendo escrever os sons, mas choro o fato de meu MP3 Player não estar à disposição diante de tal cena. Ele fazia alguns sons e em seguida olhava para mim para conferir se me incomodava, então voltava ao seu devaneio musical, era um beatbox humano, solitário dentro do Interbairros II ao lado de um maldito físico de coração obscuro. Esse é um momento interessante: é comum ver 2 físicos juntos, mas 2 variedades de lunáticos tão distintas lado a lado montam um quadro de raridade imensurável. O físico e o beatbox humano. A diferença é que o físico se esconde entre a multidão. Quanto àquele rapaz? Ninguém olhava para ele, é da personalidade curitibana não dar espaço para estranhos, mas alguns se traíam e soltavam discretas risadas, sorriam para mim sugerindo que minha situação fosse por excelência embaraçadora. Não me senti embaraçado de fato, a situação até certo ponto era assustadora, mas mesmo assim, engraçada por natureza. Eu olhava ao redor, sério, um sulista autêntico, mas minha alma ria, dava gargalhadas infantis, rolava pelo chão sujo do ônibus.

Por um instante pensei: "como algo tão simples pode ser tão estigmatizado em uma sociedade dita pós-moderna... estamos de fato nos preocupando com futilidades e dando atenção excessiva à liberdade de expressão alheia". Assim que eu pensei isso, o rapaz se levantou e desceu do ônibus. Então, senti-me livre e comecei a rir, rir de fechar os olhos e curvar a cabeça para trás, ria como não ria desde o dia em que vi meu cão quebrar a janela da sala para latir para alguém que estava fora, ri como se nada mais importasse. E o povo ao redor também ria. Uma moça sentada de frente para mim sorria como criança balançando a cabeça e o rapaz ao lado comentava "que comédia!". Conversamos descontraídos sobre a loucura e a voracidade de certas pessoas em jactar, sem compromisso com o pudor e a decência, os próprios gostos musicais. Em seguida, olhei para fora do ônibus, a moça começou a mexer em sua bolsa e o rapaz ao lado começou a dormir. Que vacilo... curitibanos não devem falar com estranhos.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Pensamentos...

Há algumas noites, tive um sonho um tanto curioso: voava eu distraído por entre os fios de luz da nossa bela Curitiba quando, sem a menor vergonha na cara, uma criança me atirou uma pedra. Nesse momento, instintos primitivos do ser humano acordam e seu lado primata, que antes jogava truco com o lado intelectual, resolve assumir o controle. Não, não estou dizendo que lancei a pedra devolta contra o garoto ou que fiz com que um leão surgisse ao lado do rapaz (minha imaginação durante meus sonhos tem atitude própria), mas cheguei ao ponto máximo que minha cabeça chega em momentos extremos: comecei a filosofar a respeito de política.

Não que eu seja algum amante da política ou que aprecie o circo do plenário, apenas acordei pensando "E se o Brizola conseguisse a presidência hoje?". Confesso que não é um pensamento dos mais otimistas, mas convenhamos, o sujeito tinha estilo como político. Se você discorda, veja você mesmo:

http://www.youtube.com/watch?v=ORaObuR6dwM
http://www.youtube.com/watch?v=9QMOLP_WXJE
http://www.youtube.com/watch?v=fMbMbbfsrbQ
http://www.youtube.com/watch?v=F7x_8ZsOqvM

Entre os saudosos jogadores de pôquer (Os jogadores que perdoem se a grafia estiver errada) há aqueles que gostam dos velhos jargões, entre eles o famoso "Poker face". Contextualizando para minha realidade de universitário de Física que nada entende de Pôquer, o legítimo poker face é o cara que grita "Truco" batendo na mesa depois de fazer 2 sinais de manilha para o parceiro mas tendo à mão um quatro de ouro, um de espadas e um de copas, sendo que a carta que virou era uma dama. O poker face é o cara de pau, aquele que peida no elevador e olha pra você com olhar de reprovação (seu mal educado), o velho que comprou o serviço e não pagou (essa piada é para os que gostam do youtube, não vou baixar o nível do palavreado), o cão que baixa a orelha e pula na sua perna pedindo carinho após roer seu chinelo. Talvez ele não fosse um cara de pau descarado como certo governador que xinga quem protesta contra o nepotismo, mas ele tinha uma veia artística quando o assunto era se pronunciar em público, ele tinha um personagem "político honesto" muito bem incorporado, uma forma de dizer "vá à merda" que é digna dos grandes imperadores romanos, uma classe que a Pantera cor-de-rosa sempre sonhou ter.

Imaginei como seria incrível ver na televisão o homem que roubou meu imposto dizer "eu não me conformo com a sua falta de tino" dirigindo-se ao repórter 'cretino', quase me convencendo de que o Brasil é um país realmente em desenvolvimento. E graças a ele, lógico. Em seguida, imaginei a tragédia que seria se o homem aranha tivesse surgido em Curitiba... ele jogaria sua teia sobre um prédio, balançaria e se jogaria, lançando a teia no próximo arranha-céu. Mas não haveria arranha-céu. Ele tomaria um belo de um pacote, espalhando pedaços por aí e deixando a encargo do piá de prédio que andava à lan house o trabalho de tirar-lhe a máscara de descobrir que ele era, na verdade, um fotógrafo free-lancer. Sim, um fotógrafo free-lancer curitibano, ele moraria com os pais ou passaria fome. Mas enfim, concluí que, quando eu acordo, minha imaginação também assusta.