domingo, 4 de maio de 2008

Passeio pelo shopping

Dizem os marxistas que o rumo natural da sociedade capitalista é o autocolapso. Pode soar fatalista, mas para mim soa apenas engraçado. Lá fui eu, o amigo fofo, acompanhar minha amiga De Lara no shopping (meus cabelos sofrem um leve arrepio em vista de tal palavra, não por ser um comunista, que não o sou, mas porque não gosto mesmo) para que ela fizesse uma compra. A missão era a seguinte: conseguir um conjunto para a festa de seu aniversário que será essa semana.

Entrou a moça no local andando a passos largos e rápidos, com pressa para chegar à primeira loja. "Não temos tempo, vamos rápido". Dentro da primeira loja, onde foi atendida por uma atendente pequena e ruiva (aiai, a atendente pequena e ruiva...) de fácil sorriso e... bem, ela era bem bonita, De Lara experimentou algumas peças, mas não se agradou de nenhuma. Saímos de lá, ela com a paciência um pouco mais curta e eu com o coração partido, e fomos para a segunda tentativa... digo, loja. A moça nos atendeu com muita prestatividade e disposição (mesmo não sendo a pequena ruiva da primeira loja), mas também não conseguiu vender nada. Assim foi de loja em loja, De Lara andando a passos largos, passando como um tufão por cada loja e descobrindo que não gosta de boa parte das roupas lá disponíveis. O que me chamou a atenção em meio a isso tudo não foi o convite ao consumismo que o local oferecia ou o fato de poucas roupas satisfazerem uma moça demasiado exigente, mas as minhas observações das lojas (afinal, eu precisava de algo para esquecer a pequena ruiva da primeira loja).

Começou na loja que arrancou um comentário de De Lara: "essa loja é a mais cara do shopping". Sim, uma loja de fato cara. Não, não digo a loja em si, não pretendia compra-la, mas as roupas lá vendidas eram todas de preços exagerados. Sim, a loja mais cara poderia, ao menos, ser um pouco mais estética. Percebo eu, logo de entrada, que o chão (branco branco branco) tinha riscos chamativos e marcas de sola de calçado. Algumas paredes eram recobertas de um vidro que fora mal colado, o que fazia com que os pontos colados fossem facilmente identificados, e algumas lâmpadas do mostruário estavam queimadas. Certo, as pessoas vão lá para procurar roupas e o Flubber® vai para reparar no vidro, mas aquilo gritou ao meu olhar. Ah, a vendedora carregava sua bolsa para lá e para cá também. Outra loja, também cara, tinha o chão mal varrido e em uma outra ainda o vendedor falava sem olhar para a cara da cliente.

Por fim, concluí que as lojas baratas eram as mais estéticas. Ao final da jornada, ela encontrou algo que a agradou em uma loja que, segundo sua mãe, era sempre o fim das jornadas. Ali, reparei que o teto da loja era de tábuas espaçadas e que o som (que tocava músicas diferentes em cada loja) era um minisistem (sim, eu escrevi minisistem e não pretendo corrigir) apoiado nas madeiras. Não pude deixar de notar que, a cada dez palavras, o cantor dizia "oquei" (sim, OK, não faça comentários desagradáveis) e, por fim, fiz o que fazia em todas as lojas (exceto na presença da pequena ruiva): encontrei um lugar e sentei. Lá, não pude deixar de notar na originalidade: o balcão era feito de duas telhas de zinco posicionadas na vertical e uma tábua por cima. Vi muita coisa em lojas chiques, desde atendente vesgo até cortinas rasgadas no provador, mas telhas de zinco foi uma novidade. No final das contas, o povo gasta o dinheiro da mesma forma e o estabelecimento continua funcionando, apesar de meus comentários desagradáveis. Era hora de ir embora mesmo. Ela efetuou a compra, o caso estava encerrado.