sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Sala de aula

Essa é, sem dúvida, a mais densa selva do intelectualismo barato elaborado e pitorescamente administrado entre as mentes mais perversas e inocentes da história da sociedade materialista moderna. Não, não é o horário político, falo de um antro de figuras mais peculiares e mais interessantes: uma sala de aula em horário de aula de alunos de física.

A aula em questão possui um mecanismo de funcionamento bastante simples: os alunos apresentam aulas sobre assuntos previamente elaborados em compania do professor, apresentando experimentos e elaborando explicações voltadas ao aluno de ensino médio. Os trabalhos em geral apresentam assuntos pertinentes ao ensino em questão, todavia não apresentem a duração prevista de cinqüenta minutos. Termina que, em uma aula de 3 horas e 40 minutos temos 4 horas e 5 minutos de apresentações (e comentários do professor). Mas em geral, o período é representativamente produtivo no quesito literário, afinal, o curso de física ainda é o curso de física.

A apresentação versava sobre o magnetismo, um experimento interessante que sucedeu duas outras aulas com experimentos igualmente interessantes sobre assuntos distintos (e só poderia ser mais interessante se não terminasse em horário próximo às 11 horas da noite). Uma tomada de dados e uma comparação com o campo magnético da Terra... em seguida, o preenchimento da tabela do campo magnético gerado pela espira em uma dada corrente e um dos valores atinge a respeitável marca de 226. Os comentários de Flubber® seriam bem mais proveitosos se fossem feitos em momento oportuno e após a devida reflexão. Lembrou Flubber®, naquele momento, que uma ressonância magnética usa um campo absurdo de 2 Tesla, ao passo que o acelerador de partículas do LNLS em campinas administra um campo absurdo superior a 100 Tesla (Não, eu não lembro o valor de cabeça). Conclusão imediata do físico (o Flubber®, não nenhum dos outros presentes): o colega criou um gerador magnético de proporções improcedentes, talvez capaz de causar um apagão se ligado em momento oportuno e no lugar adequado. E tudo isso com 4 pilhas de 1.5V, um amperímetro, uma espira de 21 voltas e um potenciômetro. Uma bomba de pulso magnético feita de material reciclável.

Aquele experimento certamente seria único. As aplicações no campo de pesquisa científica e na área militar seriam promissoras. Um gerador de 226 Tesla que custa menos de 100 reais! A que ponto uma guerra poderia ser controlada com um mero pulso? Mal notara Flubber® que a unidade em questão não era o Tesla (T), mas sim o micro-Tesla (µT), o que tornava o campo em questão apenas um milhão de vezes menor.

Após seus comentários inconvenientes serem devidamente dispensados pelos alunos ao redor, Flubber® retomou sua reflexão... ao menos não custa sonhar!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Centro (algum lugar entre o Círculo Militar e a Praça Carlos Gomes)

Estudiosos do comportamento animal sabem há muito tempo que, entre os sexuados, muitas atitudes (desde o canto do galo à cauda do pavão) remetem à boa oportunidade da relação com o sexo oposto. Freud (dizem as más línguas) tinha um tino especial para encontrar cunhos pejorativamente sexuais nas atitudes alheias, os historiadores, em maioria, concordam que uma das grandes influências políticas da antiga Grécia era exercida por prositutas, a igreja medieval maculou o sexo como pecado para controlar a população de alguma forma e até mesmo os eruditos da sabedoria popular concordam que tudo gira em torno do sexo. Isso evitando usar o vocabulário popular para tal afirmação.

Contrariando as tendências naturais impostas por nossas forças animais, existem também aqueles que, por alguma via ininteligível do destino, contrariando a evolução e os instintos animais, dotados de algum ensinamento sugerido pela nova etiqueta e de uma fofura incomum, se aproximam do sexo oposto com a mera intenção de uma interação amistosa sem cunhos reprodutivos ou despudorados, praticantes do tradicional "beijo no rosto", "abraço gostoso" e das trocas incontroláveis de informações (fofocas), uma relação outrora praticada apenas entre seres do mesmo sexo conhecida vulgarmente como "amizade (e nada mais, entendeu?)". Incomum especialmente entre os homens, tal comportamento é sempre gerador de comentários jocosos (ih, olha lá, o João tá sempre visitando a tal da Maria, hihihi), especialmente entre círculos de amigos (que normalmente só pensam em sexo), rodas de conversa no bar (que geralmente têm em suas atas longas discussões - às vezes não amistosas - sobre sexo), pais puritanos (um eufemismo que, in facto, trata de pais que sempre enxergam sexo nas atitudes alheias) e, principalmente, entre as amigas da menina que tem a amizade com o rapaz.

Comumente taxados de homossexuais, assexuados ou fofos, esses homens nada mais são que um acidente estranho da evolução social. E muitas vezes as mulheres esquecem que estes homens não são, de fato, assexuados, e não devem passar por certas provações (mas isso poderia ser assunto para um conto inteiro). Em resumo, mesmo sendo heterossexuais, esses amigos fofos não querem necessariamente te comer se te chamam para sair como amigos. Mas certamente não se ofenderão caso você os apresente aquela amiga bonita e solteira... mas isso não é uma sugestão, longe de mim. Quero relatar, com isso, outra curiosa seqüência de fatos que se passa com Flubber, o pobre físico observador do mundo real.

Flubber, como todo bom amigo fofo, tem o hábito de encontrar algumas amigas com uma pequena freqüência para a boa e tradicional troca verbal de idéias, a mais elaborada e eficiente forma de transferência de conteúdo jamais desenvolvida pela sociedade ao longo das eras. E esse era outro passeio, assim como o anteriormente citado passeio com De Lara. Dessa vez não trato de De Lara, mas de De Souza, uma grande pequena amiga com uma queda incomum por cafés e caminhadas pelo centro da cidade. Dessa vez, experimentamos um desafio de xadrez. Não que sejamos bons praticantes do tradicional esporte mental, mas apenas queríamos colocar à prova nossas rígidas habilidades cognitivas (e talvez dar motivo para os espectadores terem algum momento para rir). Duas partidas e ambos estávamos esperando ansiosamente pelo quebra jejum. A derradeira partida de desempate ficou para uma próxima oportunidade (afinal, Flubber leva quase cinco minutos para pensar cada jogada).

Quebrada a concentração dos bravos praticantes do jogo de tabuleiro, os assuntos variavam. Partiam da força popular no exercício de seu poder de influência ao grave julgo que representam os sentimentos instintivos para a boa interação social, do esforço humano em manter sua delicada onipotência sobre a natureza ao local onde realizar o lanche. Dentre todos os assuntos discutidos, o único que obteve alguma solução era o que tratava sobre o que comer. Bolachas doces para uma longa conversa na praça pareciam atraentes. Na famosa "praça do relógio" (nome popular para a praça cujo nome sempre esqueço de pesquisar por pura preguiça), a conversa tomou o rumo mais pessoal. Ali, os amigos conversam sobre suas questões pessoais (e sobre sexo, inevitavelmente). A vida assume um aspecto difícil de entender quando visto de olhos externos. Comentários como "Ele não pode casar, isso não se faz", quando tratando de um ex namorado, leva a imaginação do interlocutor a extremos, desde a preocupação da amiga com o compromisso prematuro de seu ex companheiro até o ciúme tradicional da ex namorada. Como ela certamente lerá esse texto, não direi qual das opções, ao meu ver, melhor corresponde à situação (não vou dizer que eu tenho certeza que é a segunda opção). As atuais companheiras dos rapazes por ela citados também receberam sua parcela de atenção ("ui, ele chama ela de bebê! Que nojo! Tudo bem ser fofo com a namorada... mas pô, bebê? Ele não precisa chamar assim!"). Obviamente Flubber citou fatos com ele decorridos, mas como o blog pertence a ele, ele tem a opção de não citá-los. Reclamações podem ser encaminhadas nos comentários do blog com remetente para a resposta (que algum dia será enviada caso os correios, o governo, o clima e a minha disposição colaborarem).

Nova caminhada sem destino e nova discussão inflamada sobre o lugar do próximo lanche e fomos a uma lanchonete (dessas franquias bonitas e coloridas que esquecem de limpar a mesa antes de servir, demoram para atender e cobram dez por cento pelo atendimento). Esfirras, um pastel, um suco de manga e um salgado cujo nome esqueci (mas tinha queijo cremoso... hummm). E, obviamente, novas conversas sobre ex namorados (as) (e o sexo rodeia o mundo afinal, inclusive as conversas com os amigos fofos). Obviamente quem mais sofre novamente é a atual de algum ex ("Ela tem uma foto no orkut comendo churros... que gorda ela!") e com certeza comentários a respeito de assuntos de Flubber (vale a mesma máxima anteriormente citada). Paga a conta e perdido algum tempo à mesa ("Eu acho um absurdo os dez por cento"), a dupla estava pronta para outra caminhada. Pouco originais, retornaram à Rua XV de Novembro para mais divagações ("Quantos emos! Tá me dando coceira" "Ai, Flubber, que horror! Não fala assim!") e para a espera do famoso maracatu da universidade (que não apareceu, talvez por atraso nosso, talvez pela procrastinação, a constante influência da popular "vadiagem"). Cansados da espera (e Flubber cansado de ver emos), resolveram que era hora de retomar a estrada, afinal, as beiradas dos pequenos cercados de flores não é muito anatômica para ser usada como banco. "Um capuccino?", e Flubber reflete que talvez nem tudo no mundo gire em torno de sexo afinal. (Eu ganhei chocolate *.*)

Ao café, um bom e velho capuccino rega outra fervorosa conversa sobre a vida alheia ("Ah, ele era loiro, alto, de olhos verdes e fazia física... mas pode parar de se achar, Flubber, não é você" "Ué, porque eu acharia que era eu? *sorriso desaparecendo*"). Mais alguns minutos de conversa, outra conta paga e novamente pé na estrada, dessa vez um ônibus com destino bem definido (ao contrário das caminhadas anteriores). Ao terminal do Cabral, a despedida, e Flubber volta para seu lar (carregado de bombons que o conferiam um sorriso incomum). Agora um banho para eliminar o cheiro de cigarro e a esperança de que De Souza não o mate pelo conto (nem venha com a péssima notícia de que seu nome não é De Souza... Flubber, Flubber, troque de cérebro).

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Rua Bôrtolo Gusso

Dizem alguns teólogos que há um período de 400 anos que precedem o novo testamento da Bíblia durante os quais houve pouca ou nenhuma manifestação divina entre o povo de Deus. 400 anos de silêncio. Ou talvez 400 anos não registrados. De qualquer forma, 400 anos não anotados para o cristianismo, são 400 anos e, mesmo assim, as religiões derivadas do judaísmo não perderam seus adeptos. Infelizmente, em um blog as coisas não funcionam assim... um mês sem postagens culmina em uma redução significativa no número de espectadores e no interesse dos remanescentes. Enfim, contrariando as expectativas de muitos, aqui estou eu novamente, de férias e com outro conto de veracidade duvidosa para contar.

Como de costume, o fato aqui narrado demonstra a riqueza cultural de nossa modesta sociedade e, acima de tudo, o tino e a boa educação constantes das nossas efetivas políticas de boa vizinhança. E, como de mais costume ainda, o fato aqui narrado foi flagrado indecorosamente por meus inocentes sentidos.

A Rua Bôrtolo Gusso é, sem sombra de dúvida, uma excelente referência: É atravessada por mais de cinco linhas de ônibus, liga a Avenida Brasília ao Fim do Mundo, uma nobre região, habitada por diversos sobrados, condomínios, favelas e pelo Flubber, sendo que todos os moradores dessa região dependem dessa rua. Certamente uma rua de vital importância e relevante significância para alguns; pena que o resto da cidade sequer sabe que ela existe.

Em uma rua de tamanha movimentação e importância, levando em conta toda a sensatez de nosso povo curitibano e o fato de o Interbairros II passar por ali, podemos também andar preocupados com situações embaraçosas e inusitadas, como manifestações da boa educação regional, motoristas de final de semana aventureiros em uma segunda feira, vendas de DVDs piratas em saída de mercado, viaturas policiais preocupadas com o bom cumprimento da lei e abordagens políticas de filho de candidato político (afinal, ele vai pintar o muro da sua casa com uma propaganda e depois passa uma demão de tinta, vai ficar como novo). Apesar de tão vasta gama de eventos e figuras presentes em tão respeitosa rua, certamente os mais impressionantes são os nobres e cultos "playboys", o patriciado do Capão Raso, os filhos da nobre burguesia e os proprietários dos carros legais e dos cérebros mais avantajados, e algumas moças que transitam periodicamente pela região.

Esse, como muitos outros, era o carro de um playboy. Uma característica playboy bastante ostensiva é, sem sombra de dúvidas, a ansiedade e o esforço em manifestar suas opiniões a respeito de problemas a eles alheios, críticas construtivas de caráter geral com o simples intuito de ajudar e enriquecer, compartilhando de forma autruísta o conteúdo guardado com tanto esmero em suas mentes divagadoras, caçadoras da nobre cultura e da produção intelectual. O fato que narro aqui é proveniente de um momento desse porte.

E desço eu do ônibus e ando a caminho de minha casa. Uma noite tranqüila na rua Bôrtolo Gusso, como muitas outras. Um grupo de moças caminhava e conversava descontraidamente e um carro vinha da mesma direção. Ao passar pelas moças, o rapaz, motorista do carro, tal como o passageiro a seu lado, exibiam sua bela e sonora buzina, acompanhando o harmonioso som com seus comentários portados da sabedoria secular da grande cidade. Diziam eles "Vem me fazer um , suas vadias!", ao que as moças, prontamente, contagiadas pela originalidade do comentário, diziam "Não sou sua mãe, seu idiota!". O carro se afasta com mais buzinas e mais comentários dotados da sutileza típica da pessoa de cultura. Não posso negar que a comunicação verbal é uma das maiores dádivas que o intelecto humano já fora capaz de desenvolver, possibilitando a troca de experiências e de conhecimentos de uma forma abstrata e eficaz. Não tenho dúvidas de que moro em uma cidade de elevada cultura, uma verdadeira Europa brasileira.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Reitoria

Em uma breve jornada pela saudosa reitoria de minha universidade, qualquer um se impressiona facilmente com o curioso e assombroso número de figuras excêntricas de todas as formas possíveis e imagináveis (que me levam a refletir.. será que são os físicos que são realmente loucos?). Não era de se esperar que esse fosse o palco de eventos inusitados, para não dizer 'estranhos'. Não falo de grandes eventos, como as manifestações intermitentes (e reincidentes) que os ocupadíssimos alunos de certos cursos realizam. Falo das pequenas calamidades do cotidiano, as banais desventuras da intelectualidade acadêmica... enfim, o diário do verdadeiro antro da loucura.

E assim começou mais um momento de reflexão... um breve passeio pelo quinto andar do prédio mais baixo. Ia eu distraidamente ao toalete para, como de costume, liberar os restos de meu metabolismo celular, tal como os sais minerais em excesso, todos contidos no reservatório da bexiga. Em suma, o velho e saudoso número 1. O que você encontra no banheiro? O de sempre: um espelho, uma pia e uma privada, pelo menos. Por mais que as quantidades variem e que o banheiro tenha artigos de luxo (como sabonete, papéis toalha e higiênico e lixeiros), essas são as peças comuns. Banheiros originais trazem recados sobre o desperdício de água e alguns, mais ousados, sobre a pontaria do usuário do cômodo. Aquele banheiro, em específico, tinha uma peculiaridade que trazia um aviso assaz original.

A peculiaridade era bastante simples: a entrada para o banheiro era de frente para as cabines onde ficam as privadas. Conseqüência: caso você tenha enjoado das pixações das paredes e portas (com telefones e recados libidinosos em geral), você pode observar a movimentação pela porta de saída. A inversa também é verdadeira: transeuntes no corredor poderiam, se olhassem para dentro, ver o usuário da privada sentado em seu momento sagrado, examinar a situação e até mesmo acenar ou manifestar apoio. Por considerar tal possibilidade um grave inconveniente, alguém postou uma folha com os dizeres "AO ENTRAR, FAVOR FECHAR A PORTA". Sim, isso resolve as coisas: fechar a porta.

Não suficiente a ironia que o recado já me sugeria, alguma figura de imaginação perturbada e aflorada completou, a caneta, com os dizeres "E ao sair, abrir". Me fez bastante sentido, de fato. Apesar de não estar explicitada a ordem dos fatos (primeiro sair ou primeiro abrir?), a intuição permite a conclusão o resto. É fácil de entender como outros engraçadinhos, possuídos de uma originalidade imensurável, começaram a escrever complementos por perto, mas isso não estragou a glória da imaginação do primeiro descupado.

Certamente, como qualquer outro conto meu, este me leva a refletir sobre a vida em sociedade, o cotidiano acadêmico, a prontidão de certas pessoas para a inutilidade e, com certeza, como sempre, a respeito da inflação da criatividade humana durante sua estadia em uma privada de uso público. Mas ao invés de escrever mais, limito-me, como de costume, a cortar o assunto por aqui, antes que a brincadeira fique excessivamente fétida e fecal.

domingo, 4 de maio de 2008

Passeio pelo shopping

Dizem os marxistas que o rumo natural da sociedade capitalista é o autocolapso. Pode soar fatalista, mas para mim soa apenas engraçado. Lá fui eu, o amigo fofo, acompanhar minha amiga De Lara no shopping (meus cabelos sofrem um leve arrepio em vista de tal palavra, não por ser um comunista, que não o sou, mas porque não gosto mesmo) para que ela fizesse uma compra. A missão era a seguinte: conseguir um conjunto para a festa de seu aniversário que será essa semana.

Entrou a moça no local andando a passos largos e rápidos, com pressa para chegar à primeira loja. "Não temos tempo, vamos rápido". Dentro da primeira loja, onde foi atendida por uma atendente pequena e ruiva (aiai, a atendente pequena e ruiva...) de fácil sorriso e... bem, ela era bem bonita, De Lara experimentou algumas peças, mas não se agradou de nenhuma. Saímos de lá, ela com a paciência um pouco mais curta e eu com o coração partido, e fomos para a segunda tentativa... digo, loja. A moça nos atendeu com muita prestatividade e disposição (mesmo não sendo a pequena ruiva da primeira loja), mas também não conseguiu vender nada. Assim foi de loja em loja, De Lara andando a passos largos, passando como um tufão por cada loja e descobrindo que não gosta de boa parte das roupas lá disponíveis. O que me chamou a atenção em meio a isso tudo não foi o convite ao consumismo que o local oferecia ou o fato de poucas roupas satisfazerem uma moça demasiado exigente, mas as minhas observações das lojas (afinal, eu precisava de algo para esquecer a pequena ruiva da primeira loja).

Começou na loja que arrancou um comentário de De Lara: "essa loja é a mais cara do shopping". Sim, uma loja de fato cara. Não, não digo a loja em si, não pretendia compra-la, mas as roupas lá vendidas eram todas de preços exagerados. Sim, a loja mais cara poderia, ao menos, ser um pouco mais estética. Percebo eu, logo de entrada, que o chão (branco branco branco) tinha riscos chamativos e marcas de sola de calçado. Algumas paredes eram recobertas de um vidro que fora mal colado, o que fazia com que os pontos colados fossem facilmente identificados, e algumas lâmpadas do mostruário estavam queimadas. Certo, as pessoas vão lá para procurar roupas e o Flubber® vai para reparar no vidro, mas aquilo gritou ao meu olhar. Ah, a vendedora carregava sua bolsa para lá e para cá também. Outra loja, também cara, tinha o chão mal varrido e em uma outra ainda o vendedor falava sem olhar para a cara da cliente.

Por fim, concluí que as lojas baratas eram as mais estéticas. Ao final da jornada, ela encontrou algo que a agradou em uma loja que, segundo sua mãe, era sempre o fim das jornadas. Ali, reparei que o teto da loja era de tábuas espaçadas e que o som (que tocava músicas diferentes em cada loja) era um minisistem (sim, eu escrevi minisistem e não pretendo corrigir) apoiado nas madeiras. Não pude deixar de notar que, a cada dez palavras, o cantor dizia "oquei" (sim, OK, não faça comentários desagradáveis) e, por fim, fiz o que fazia em todas as lojas (exceto na presença da pequena ruiva): encontrei um lugar e sentei. Lá, não pude deixar de notar na originalidade: o balcão era feito de duas telhas de zinco posicionadas na vertical e uma tábua por cima. Vi muita coisa em lojas chiques, desde atendente vesgo até cortinas rasgadas no provador, mas telhas de zinco foi uma novidade. No final das contas, o povo gasta o dinheiro da mesma forma e o estabelecimento continua funcionando, apesar de meus comentários desagradáveis. Era hora de ir embora mesmo. Ela efetuou a compra, o caso estava encerrado.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Interbairros II (III) - A Ascenção do Verdão

Gosto de filosofar a respeito daquilo que temos por evolução das espécies. Reza o neo darwinismo (me perdoem os biólogos caso eu fale alguma heresia) que um passo evolucionário se dá quando uma variação mutante de uma espécie se mostra mais apta a sobreviver a uma condição que seus pais considerados "normais". Aqueles que me conhecem certamente imaginariam que eu usaria uma frase dessas para introduzir um conto sobre a intuilidade da normalidade e dos paradigmas relacionais das pessoas, mas nessa hora eu aponto para a sua cara, rio e digo, sem medo de ser feliz, "HAHAHA, erro-ou". Quero ressaltar a parte que diz "apto" em detrimento do senso comum que acredita que a evolução se dá pela sobrevivência do mais forte. Isso é uma mentira tão grande quanto imaginar que os dinossauros são mais evoluídos que as baratas ou elaborar uma explicação sobre o seu vizinho que ouve "créu" dentro do carro, sem a desculpa de ver as mulheres rebolando.

Fazendo uma comparação horrível com a nossa realidade de país de terceiro mundo com nossos problemas, paradoxos e, acima de tudo, filhadaputagens sociais, além de nossos conhecidíssimos problemas de julgamentos tãão precipitados de políticos corruptos (tadinhos, eles só querem ter uma vida digna), me vejo obrigado a perceber que, na vida social, o mais forte é o que normalmente sobrevive. Sim, e para argumentar a favor de tão ousada afirmação, posso trazer fatos cotidianos simples, como assaltos a mão armada, brigas de torcidas organizadas e etc. Posso, mas não vou, prefiro trazer algo mais simples e comum. Em resumo, estou escrevendo outro fato observado dentro da esplendorosa representação verde do proletário e do estudante curitibano: O Interbairros II.

A cena pode ser descrita como um teatro. Os comentários escritos [dessa forma] são uma possível dramatização para a elaboração de um filme americano com personagens clichês. O restante é aquilo que eu observo e aquilo que eu penso, como sempre. Personagens envolvidos na cena: O motorista do verdão, velho homem careca com cara de autista [e uma sede insaciável por justiça], o cobrador, um homem qualquer [que alimenta um amor platônico pela mocinha], o físico estranho (outro pleonasmo) que nada mais é que um loiro estranho carregando um fichário, dois policiais civis curitibanos dentro de uma viatura (que nada mais é que um carro popular pintado diferente e com alguns apetrechos legais) que dirigiam vagarosamente [comendo rosquinhas e recebendo propina de traficantes de drogas e cobrando impostos injustos de pessoas simples que tentam vender seus DVDs para sobreviver] e a mocinha, a mulher que conversa com o cobrador.

Cena: Os policiais dirigem tranqüilamente pela estrada que sai da Derosso, no caminho do Interbairros II [, a heróica máquina defensora dos fracos e oprimidos]. O motorista, com sua imutável expressão autista de Steven-Seegal-com-sede-por-sangue, [em vista da opressão que aquele carro representava,] decidiu que era hora de ultrapassar a viatura. Acelerando aos poucos, se aproximava impetuosamente. Puxo aqui uma representação interessante: a viatura policial tem a autoridade e as armas, seriam, metaforicametne, organismos complexos e bem aptos para viver em uma cidade grande. O motorista do Interbairros tinha um carro grande e verde, o que o confere a situação metafórica de uma criatura grande e gorda, talvez possa ousar considerá-lo um predador carnívoro. O motorista [, após lembrar o que os policiais fizeram à sua esposa naquela impetuosa noite chuvosa de outono,] acelerou um pouco mais, chegando perto de tocá-los o carro por trás. [O motorista lembrou de seus pais, de como policiais humilharam sua família, tocou em cima.] Sim, os policiais respresentavam a lei, mas o interbairros era bem maior. Eles fizeram o sensato e saíram do caminho [, girando três vezes, capotando e atingindo um caminhão que carregava gasolina, explodindo e lançando vários pedaços de rosquinhas pelos ares]. A mocinha comenta [com ar triunfal, ao som do hino americano]: Não é hora pra eles ficarem aí, passeando. [Em seguida a isso, o motorista vai para sua casa em Chapecó com seus filhos, o cobrador casa com a mocinha e fundam uma base de resistência ao sistema opressor comunista e todos vivem felizes para sempre.] Culmina que o papel do físico, como de praxe, é ficar assistindo e pensando na forma mais peculiar de registrar o fato por escrito.

Bom, a intenção dos textos entre sinais [] é só deixar a sugestão para um roteiro para a situação, um texto totalmente enriquecido culturalmente e, acima de tudo, imparcial a respeito do caráter de todos os personagens envolvidos. Um típico filme americano, sem sombra de dúvida.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Automáticos e cretinos

Sim, essa é a tecnologia. Estou eu em frente à maior representação da evolução da tecnologia e de seu acesso pelo povo, o lembrete do trabalho que ainda não fiz, a força intelectual que guarda relevante parcela de nossas informações e, por vezes, até manda em seus donos. Esse que fala por si só: o famoso PC, o Personal Computer, um Desktop ou, em bom português, o computador, esse que tem com seu usuário uma relação íntima de amor e ódio de proporções tão impressionantes que me fazem refletir sobre a interação entre o ser humano e suas criações. Sim, o homem criou o computador à sua imagem e semelhança: a máquina é vaidosa e orgulhosa, exigindo por vezes peças novas e de ponta, é imprevisível e, detalhe marcante, temperamental, faltando em suas funções por motivos esdrúxulos como um mero cabinho fora do lugar. Bom, talvez o homem não o tenha feito à própria imagem e sim à imagem da mulher, afinal, em nosso mundo, tudo termina, de alguma forma, na relação intersexual.

E é essa máquina carregada de significados que paro para observar por um momento específico. Certamente Maxwell, ao escrever suas equações para o eletromagnetismo (que cito no Conto Divino), jamais imaginou que as coisas chegariam onde chegaram. Acredito que ele teria pensado duas vezes e talvez tivesse deixado a culpa de tal avanço para algum outro João Ninguém (então teríamos as "Equações de Ninguém") que ficaria com todo o crédito e ficaria famoso. Invariantemente, estaríamos na mesma situação.

Minha máquina, em específico, tem nome: Galileo. Galileo não foge à regra: é uma típica máquina de temperamento feminino da qual dependo o tempo todo. No dia de hoje, estivemos relembrando uma antiga crise pela qual temos passado há alguns dias, afinal, ele parece carente de atenção. Mas não ousem por-lhe a masculinidade em dúvida (ele é sensível). Estamos a discutir relacionamento.

Acredito que a justificativa para seu temperamento amargo seja a condição utilitária na qual deve se sentir... Eu me achego apenas para usufruir daquilo que ele me oferece: a maior parte do tempo ele está ligado e está a realizar alguma tarefa, como puxar algum arquivo da rede internacional, processar alguma simulação numérica medonha (física, física...), exibir algum texto qualquer, rodar jogos, tocar músicas ou escrever porcarias sem propósito em um blog. Aconteceu que hoje ele ficou lento, travado, o processador não dava conta de tudo que tinha para rodar. Não na velocidade certa pelo menos. Estou acostumado a isso me acontecer, logo, fiz o comando padrão para abrir o gerenciador de tarefas de meu sistema operacional, um saudoso sistema ao estilo caixa preta (que ninguém sabe o que vai dentro), e rapidamente localizei o processo que travava (basta procurar o processo que ocupa mais de 90% da capacidade da CPU). Fechado o processo, continuei o que fazia, até que tive que repetir o processo.

Quando isso acontece, sempre tenho surpresas desagradáveis (que me lembram de que já passou da hora de formatar o disco rígido), e hoje não foi diferente. Decidi que era hora de abrir o msn e ouvir música, e assim o fiz. Aberto o Messenger e aberto o tocador de mídia, qual não foi a surpresa? Uma mensagem do tocador de mídia: "Não há dispositivo de som configurado para o ^*&%^$%". Certo, como diria certo alemão famoso de um vídeo infame: "basta pensar positivo". Estava sem música. Como sobrevivo eu em frente ao computador sem música? Galileo sabe protestar. Sem música, sem som no Messenger e no site de vídeos... sem som. Fui abrir o controle de volume, por mera formalidade, e não fui surpreendido: um "plim" seguido do aviso "Não há dispositivo de som configurado". Em resumo, "Não tem som, seu mala". Mas eu não consegui desprezar o "Plim". Para ter certeza, cliquei novamente e ouvi o mesmo "plim". Temperamental. Não tem apenas o som que eu quero que tenha. E lá vou eu pensar em como resolver uma briga dessas. Eu estava pronto para tudo, menos para uma discussão de relacionamento com a máquina que melhor representa a falta de tino da humanidade. No final, optei pela "chave mestra para a solução de problemas de caráter geral", uma arrojada técnica que serve para situações as mais adversas: A função "Reiniciar o computador". Sim, isso sempre funciona. Também não pude deixar a musiquinha "Tanananam" do Logoff passar em branco. Temperamental, mas, ao retornar, novo em folha, como na primeira vez que foi ligado. Temperamental, mas certamente fácil de conquistar o perdão. Computadores de fato não se igualam à personalidade feminina na TPM.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Guadalupe

Dentre todos os acontecimentos do decorrer do tempo, sejam eles registrados historicamente ou não, sempre conhecemos algum deles que mais nos chocam, como, por exemplo, alguns se chocam com as guerras mundiais, outros com a revolução francesa, alguns com o experimento que mostra elétron como partícula, alguns outros ainda com o experimento subseqüente que mostra o elétron como onda e até certas pessoas que se chocam com a morte do Brizola. Eu pessoalmente me choco com o Big Bang, se é que ele aconteceu. Imagino a explosão em meio ao nada, a expansão do espaço, o "surgimento" da matéria, o colapso de estrelas, o condensamento de planetas, a solidificação de crostas, a formação de um planeta específico que chamamos Terra, o surgimento da vida, o surgimento da humanidade, a evolução do pensamento e da tecnologia, a formação da sociedade, as revoluções, a descoberta da América, mais revoluções, a nossa bela cidade de Curitiba... tudo isso, para, inevitável ou não, encararmos a barbárie que a vida cotidiana nos apresenta dia após dia. Não, não estou falando do Interbairros II dessa vez, estou falando de algum lugar esporádico em nossa bela cidade, o famoso terminal do Guadalupe, a belo antigo terminal rodoviário intermunicipal de Curitiba que hoje abriga diversos ônibus que alimentam bairros de periferia e cidades satélite de nossa modesta metrópole.

Antigo abrigo das pessoas que esperavam seus ônibus para abandonarem a cidade e das que nela chegavam, hoje tal terminal é um curioso local freqüentado pelas figuras mais inusitdas, estranhas, ébrias e, acima de tudo, pouco confiáveis das regiões centrais desse lugar que, apesar das propagandas pelo país, também tem seus contratempos sociais. Lá, o observador ocioso, mesmo que distraído, sempre consegue captar algum fato inesperado como encontros efusivos entre ébrios, congestionamentos, brigas ou, se tiver sorte, o desaparecimento da própria carteira.

O momento que narro aqui é outro daqueles que me fazem refletir a respeito do nosso surgimento e de nosso desenvolvimento enquanto sociedade. Descia eu distraído de meu ônibus "Sitio Cercado", um carro das populares linhas "Ligeirinho", os ônibus cinza de poucas paradas que utilizam o formato de portas com pontes e atravessam a cidade. O Sitio Cercado, em especial, é um daqueles que, em certos horários, desafiam a capacidade humana de auto-compactação e de resistência aos odores de seus semelhantes. Por sorte, não é comum encontrar ônibus dessa linha com o aviso fixado "Janela lacrada - veículo equipado com ar condicionado", afinal, eu ainda valorizo meus pulmões (além de que não gosto de depender dos postos de saúde). Estava eu no momento em que retomava meu volume original após desembarcar, caminhando em direção ao meu modesto local de trabalho, quando um homem se levantou de um degrau. Tinha ele uma expressão agressiva e uma forma peculiar de caminhar entrelaçando as pernas e tinha, à mão, um recipiente plástico de gargalo enforcado em cujo interior era visível um fluido transparente e em cuja casca era estampado um rótulo frugal qualquer, uma típica "garrafa de cachaça", certamente a bebida preferida de muitos daquela região.

Caminhou o homem até o meio fio e levantou sua garrafa, olhando atentamente para o homem ao outro lado da rua, não com a intenção de convidar a um brinde ou de oferecer um "gole", mas visivelmente na iminência de arremessá-la com força para baixo. E foi o que fez.

Lançou o homem a garrafa contra o asfalto. Não era uma garrafa de vidro de forma alguma, mas com certeza sabia quebrar: os pedaços de plástico se espalharam pelo asfalto tal como a bebida que o recipiente carregava, formando uma bela mancha ao chão que poderia ser confundida com água não fosse o suave aroma de cachaça que se confundia com o suor do homem, um odor característico dos bares mal freqüentados por onde se encontram pessoas filosofando, cantando e, muitas vezes, se pronunciando imponentemente de uma forma muito característica e pouco fácil de ser entendida.

Espedaçada sua garrafa, o homem apontou a um homem que se encontrava ao outro lado da avenida em tom de ameaça, uma legítima intimidação, um convite ao acerto de uma provável desavença (que seria consumado caso o homem ao outro lado da rua soubesse quem era seu "oponente"). Com a presença e o protesto devidamente impostos, retornou o homem ao seu lugar ao degrau de entrada de uma loja fechada e retomou seu antigo sono com uma expressão característica do homem que cumpre um grande objetivo de vida.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Conto divino...

Alguns me perguntam de onde eu tiro os meus contos... não os tiro de lugar algum, eles brotam perante meus olhos, esses pobres olhos despreparados e desacostumados com as peculiaridades da realidade. Mas hoje percebo que existem exceções... existe também o dia em que algo brota dentro de minha cabeça, e a aula de Física Moderna de hoje, tal como antigas piadas de físicos, são um bocado inspiradoras. Após ver mais transformações de Lorentz para a relatividade restrita e ter uma breve introdução à relatividade geral, conhecer o cone de luz, fora do qual não conseguimos chegar, e ouvir as piadas do nosso querido professor Lucinda, concluo que tenho que escrever algo. Não que sirva para as gerações posteriores, mas porque eu preciso descarregar minha mente.

No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus. Talvez seja, afinal, a lingüística a primeira ciência (se me permitem chamar assim). E disse Deus:


E houve luz. (...) e criou Deus o homem à sua imagem real (invertida) e semelhança e, para se redimir, criou a mulher. Dizem que usou uma parte do homem apenas para demonstrar que ele poderia fazer o que queria a partir de qualquer coisa. Disse ao homem e à sua mulher: "De qualquer árvore do jardim poderão desfrutar, menos da árvore do conheimento do bem e do mal, pois ela fica fora do cone de luz, região que lhes proíbo". Sim, a ordem estava dada e fora bem acatada. Mas nem tudo é como deveria ser. A oposição, sempre venenosa, enviou sua serpente para lançar a semente do mau entre os pobres humanos, que nada entendiam de física. Dizia ela "Ele apenas proibiu a árvore do conhecimento pois, à velocidade da luz, vocês seriam como ele!". Implementou então a mulher seu próprio acelerador de partículas com árvores silvestres e comeu do fruto proibido. Apreciando o suave sabor que tinham todos os 300.000.000 de metros por segundo, levou o fruto ao homem, que também comeu. A terra se escureceu e Deus perguntava "Onde estão vocês?", e eles diziam "Estamos escondidos pois, à velocidade da luz, somos invisíveis". Então a ira de Deus desceu sobre eles e eles foram expulsos do paraíso. Disse Ele:

"Nunca mais retornarão ao grande Éden! Você, mulher, que atendeu à oposição, nada mais terá de nosso favor. Serás condenada à tabela do ciclo menstrual e às espinhas provenientes destes hormônios! Terás a gravidez de 9 meses e seu filho nascerá com cara de joelho, mas mesmo assim o acharás lindo. Te envio a um mundo com baratas e taturanas, e o homem lhe será não mais o companheiro e sim o consumidor da cerveja e telespectador de futebol. Homem, o amaldiçoo com pêlos volumosos que cultivarás e amarás com sua masculinidade. Sentirás necessidade de ser aprovado pela sociedade como macho com seus músculos, seu odor de comida estragada e sua forma peculiar de coçar certas partes de seu corpo. Sua mulher terá TPM e levará vinte e cinco vezes o tempo que você leva para se arrumar e continuará se achando feia. E você é o responsável por fazê-la se sentir melhor, mesmo que nunca consiga. Terão de apreciar novelas de finais idênticos e terão citologia no ensino básico. Lanço também sobre a terra os políticos que haverão de cobrar-lhes impostos sobre tudo quanto tocarem, farão propaganda em horário gratuito e te entregarão panfletos recheados de conversas sem sentido sobre desenvolvimento e crescimento econômico, tal como promessas de emprego. Terão de suportar o pagode dos vizinhos, tal como conviver com os emos e outra criaturas das trevas. Lançarei sobre vocês a relatividade e os aprisionarei no cone de luz para que nunca mais toquem no divino. Rastejarão por recursos e serão vitimados pelo REUNI e pelas frases de efeito de presidentes que falam palavrões em frente a câmeras. Terão que arcar com as rádios country e com o Brizolla. Agora vão e se espalhem sobre a Terra. Dividirão espaço com os químicos e os engenheiros e até mesmo a proporcionalidade entre força e aceleração será questionada."

Certo, parei por aqui. Eu sei que deveria estar estudando ou fazendo qualquer outra coisa mais saudável, mas foi um desabafo e tanto. Sem mais por hoje.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Interbairros II (II)

Eu estava realmente curioso para saber quais eram os 40 vídeos que estavam no meu orkut, afinal, eu não pus tantos assim. Saí olhando um a um e citando-os mentalmente "Bom... uhum, esse é legal também... divertido... hehehe, sacanagem" e assim por diante, até que cheguei à última página de vídeos. Adivinha? Ao invés de uma página contendo os vídeos de 36 a 40, era uma página de 16 a 20. Superfaturamento? Caixa 2 de vídeos? Será que o Orkut declara imposto frio e precisa de números diferentes? Será que eles precisam atingir alguma meta governamental educacional e só duplicam o número para convencer o povo de que há mais vídeos para a campanha? Seja lá como for, foi curioso. Mas esse assunto ignóbil que provém das patranhas alheias me traz devolta ao reduto do inimaginável, aquele famoso lugar onde tudo é possível, onde você encontra todos os tipos de pessoas, de todas as classes. Lá onde você experimenta as emoções mais incomuns com freqüência notável, sonha com a compra de um carro, dá graças a Deus quando sai e, mesmo assim, volta no dia seguinte. Duas vezes. Sim, estou falando do Interbairros II, a grande máquina de transporte, o vulgo verdão.

Dentro desse ônibus você sempre pensa estar preparado para qualquer coisa, mas sempre se surpreende por uma série de motivos: ele passa em frente ao Centro Politécnico, ou seja, recolhe os alunos de Física (isso fala por si só) e passa por cantos dos mais variados da cidade, desde o Cabral até o Capão Raso. E era lá que eu estava quando outra pitoresca me aconteceu...

A bordo do ônibus havia uma série de pessoas, entre elas Martynetz (meu nobre camarada físico), Daniel (aquele da pilha) e eu (eu mesmo), o trio que se entretem por muitas vezes em conversas das mais relevantes como, por exemplo, o formato dos processadores da década de setenta e etc. E estávamos em uma bela conversa sobre clocks e bitrates quando eu, perceptivo que sou, passei a observar o ambiente: o ônibus estava parado e as pessoas discutiam. Teria alguém lançado a semente da discórdia dentro de tão venerável ambiente? Passei a observar atentamente a conversação alheia até que, sublime em meus sentidos e capacidade de dedução, anunciei com o garbo condizente à força representada pelo fato ocorrido ao nosso redor: "Cara, o ônibus foi assaltado!".

Sim, entrou um homem com uma arma à cintura acompanhado de outro que tinha uma língua à boca e falava. Ao que tudo indica, ele se dirigiu aos passageiros da frente e interlocutou no sentido de que eles deveriam "entregar tudo que tinham ou tomavam bala". Também se comunicou com o motorista, solicitando uma parada no próximo ponto para que ele e seu companheiro descessem. Enfim, tudo muito rápido.

Os físicos falavam a respeito de assaltos agora. O ônibus falava sobre assaltos e o motorista falava ao telefone sobre assaltos para a polícia. "é necessário aguardar para fazer o Boletim de Ocorrência" disse o cobrador, ao passo que o rapaz ao meu lado dizia "Tá, como não me roubaram nada, eu vou descer e esperar o próximo ônibus. Pensava eu sobre o egoísmo das pessoas, alguns foram roubados, outros estava preocupados em chegar logo em casa para descansar. Absurdo. À chegada do próximo ônibus, corria eu para a porta.

Curioso não era o fato de o ônibus seguinte ficar cheio das pessoas que 'sobreviveram' ao assalto (deixando os assaltados, o motorista e o cobrador sozinhos), mas sim as conversas ouvidas no caminho. Tão interessantes que voltamos a falar sobre os processadores. Eu tinha pensado em algum ensinamento bonito acompanhado de uma lição de moral pra tirar dessa história, mas eu esqueci. Nesse caso, fica só a história mesmo.

domingo, 16 de março de 2008

Aucgi

Bom, esse é um texto com algum propósito, ao contrário de outros. Começo-o por um motivo bastante simples: vi uma amiga minha fazer isso e achei bonito. "Flubber®, você está copiando a idéia de outra pessoa?"... a resposta é "Sim". Não, eu não tenho vergonha de assumir, meu lado masculino não me deixa mentir sobre essas coisas. Aparentemente, esse será o único texto que não insultará ninguém, não satirizará nenhuma classe e não buscará fatos esdrúxulos para comparar as coisas, como, por exemplo, citar que a capa do Super Homem é horrível para sua aerodinâmica. Tá, eu não 'ia' citar nenhum fato esdrúxulo, agora já foi.

"Mas afinal, o que esse título esdrúxulo significa?" aí, chegaremos ao ponto. Aucgi é o nome que dou à história de um mundo inteiro. Chamo de Aucgi o ser dotado de seu raciocínio, de sua grandiosidade em organização, suas falhas emocionais e sua ausência completa de dotes divinos, o ser comum, trivial, sujeito ao meio e às próprias escolhas, boas ou não (e, inclusive, questiono até que ponto uma 'boa escolha' é realmente boa, e de que ponto de vista). Chamo de Aucgi aquele que esqueceu seus ideais para buscar satisfazer a própria alma, aquele que sonha com o futuro e, muitas vezes, é obrigado a abandonar seus sonhos por forças maiores. Sim, Aucgi é o ser humano. Ou "serumano", como diria alguém em redação de vestibular. Tá, isso não foi conveniente, mas foi irresistível.

Separo a história em 2 eras principais: a era Pré Agion e a era Pós Agion. Agion é um mago que construiu seu renome. Discípulo do grande mago Siron e colega de outro grande mago, Filipe, Agion é o finalizador de uma guerra e o gatilho de outra, separando, assim, duas eras da magia do mundo dos Aucgi, dividindo opiniões a respeito de seu caráter por muitas vezes, mas sendo lembrado como o herói que salvou o mundo da desgraça dos monstros, dos quais trato na história, e criando a única forma de controlar os camaleões, as criaturas das trevas que amedrontavam o mundo. Em resumo, Agion mudou por completo a forma da sociedade e originou uma cadeia de fatos de enorme repercussão, sendo ele quem me aventuro a descrever primeiro ao longo da história.

A era Pré Agion é obscura e assustadora, tendo os magos como grandes mentes dos reinos, manipulando politicamente tudo que acontecia. Dessa era, destaco alguns fatos importantes: a ascenção da família Plennus, que marca completamente o reino de Thornum, com 4 gerações consecutivas de magos poderosíssimos e de inteligência militar incrível; a ocupação do vale de Entre-Metais por Siron, acompanhado por um grupo nômade que passa a uma cultura sedentária (tribo de onde surge Agion); a ascenção dos "Lobos", grupo de magos liderado por Solos Fausto que tem por objetivo agrupar conhecimento mágico e desenvolvimento da cultura dos magos, com o objetivo de aprimorar a magia existente; a formação do reino de Actadeon, reino marcado pelo incrível avanço tecnológico e pelo domínio das mais variadas técnicas de navegação; o desaparecimento dos dragões, criaturas mágicas com algumas características divinas perseguidas por magos.

A era Pós Agion é o marco da consciência do povo sobre o perigo que os magos representam, a separação de Plennus do reino de Thornum e a instituição de Plennus não mais como uma família, mas uma organização que regulamenta os magos e cuida para que o povo esqueça-lhes a existência. Basicamente, Plennus e os Lobos guerreiam para resgatar Cionngi, o feito supremo de Agion cujo funcionamento poucos entendem, mas uma arma poderosíssima que talvez pudesse definir o novo governador do mundo. Essa é a parte da história que narro ao longo da minha dissertação, do ponto de vista de um personagem que acompanhou alguns fatos e pesquisou muitos outros para trazer à tona a existência dos magos e seu comportamento medonho e manipulador. O narrador por muitas vezes manifesta sua opinião pessoal e não oculta que não tem pleno conhecimento dos fatos, mas se recusa em revelar boa parte de suas fontes por temer pela própria segurança. Quanto a sua identidade, obviamente ele protege a sete chaves, pois ele contraria interesses de magos extremamente influentes. Curiosamente, esse narrador tem uma cosmovisão muito parecida com a minha, mas não idêntica. Tá, é intencional, mas não conta pra ninguém.

A intenção dessa história é revelar minha opinião a respeito da sociedade, do ser humano, da política, da guerra e, acima de tudo, das relações interpessoais, que começo a abordar apenas depois da narrativa da vida de Agion.

Personagens destacados:

Agion: obviamente o que mais menciono, Agion é um mago recheado de mistérios e de mente turbulenta, um homem que abandonou seus ideais de um mundo melhor e buscou apenas concluir um objetivo pessoal, que ele alega ser matar uma pessoa.

Siron: Mago cativante e assustador, inspirado no Dumbledore de Harry Potter, mas um tanto menos amigável, possuidor de conhecimento imenso e fabricante de apetrechos mágicos, certamente é o personagem mais intrigante da história. Seu passado é obscuro e não revelado e não se importa com o próprio futuro. Gosta de ensinar pessoas a se tornarem grandes praticamentes de magia e gosta de idealistas, mesmo que não seja mais um. Muitas vezes tem um comportamento infantil e diz coisas que não se espera de uma pessoa que já viveu tudo o que ele viveu.

Filipe: O melhor aprendiz de Siron. Diferente de Agion, que tem algo mágico sobre sua mente que o direciona a aprender magia, Filipe é esforçado e sonha em se tornar um mago de renome. Suas aparições ao longo da história revelam um garoto e um homem diferente da maioria dos magos: possui ideais, valoriza suas emoções e se preocupa com os amigos, entre eles Agion, que cresceu ao seu lado.

Lucius Plennus: Filho de Octavius Plennus, Lucius Octavianus Plennus é certamente o mago mais poderoso conhecido no mundo. Não revela seus métodos e sempre foi excelente estrategista militar, se tornando facilmente conselheiro do rei de Thornum. Sua índole é questionável.

Pietro Arcanjo: Personagem misterioso que chocou a sociedade contemporânea com seus assassinatos monstruosos e perseguido por todas as organizações mágicas por motivos ocultos. Pietro é o cheque mate da história.

Sinatra Arcanjo: Certamente o personagem mais marcante entre os não magos. Primo de Pietro Arcanjo, fica encarregado de investigar o intrigante "Caso Pietro", mas recebe a ordem de abandonar o caso. Insatisfeito, conduz uma investigação por conta própria e descobre uma movimentação mais poderosa que a máfia. A investigação de Sinatra inspira o narrador da história.

Aqueles que acompanharem a história certamente farão comentários jocosos a respeito da quantidade de sangue derramado, mas a ênfase está em seres poderosos que lutam por interesses e entram em guerra, o sangue é só o combustível de um cenário como esses.

Enfim, esse é o teaser de Aucgi. Certamente se eu publicá-lo, registrarei por aqui.

A história humana? Sim, uma constante guerra não declarada. Trata-se de uma grande poesia épica repleta de falsidade, baseada em suor não recompensado e escrita com sangue inocente.

sábado, 15 de março de 2008

Interbairros II

Vou ser franco, tanto quanto o possível: eu não gosto de padrões. Não gosto da etiqueta, não gosto do marketing musical e, por vezes, não gosto dos bons costumes. Aceito tudo isso e até mesmo uso, mas questiono-lhes a utilidade. Mas acho que até para essa rebeldia existe um limite. Existe um ponto que o desprezo dos padrões passa a ser um padrão, o sujeito não se preocupa mais com o fato de padrões atrapalharem sua vida, mas se preocupa em simplesmente não ter padrões, conseqüentemente, atrapalhando a própria vida. Não gostaria de citar nomes pois acho isso muito feio (Marilyn Manson), mas acredito que muita gente saiba o que eu quero dizer.

Mas existe um lado interessante da moeda: a pessoa que não se preocupa em combater padrões, ela apenas não os tem, apresentando um comportamento pouco peculiar, a exemplo do cara que teve a idéia brilhante de entrar para o curso superior de Física ("Eu adoro Física!"). Falo de gente que não se preocupa com a opinião dos outros na rua, não se preocupa com a opinião de seus pais, não se preocupa com a opinião do chefe no trabalho, não se preocupam com a própria opinião, apenas fazem aquilo que surge-lhes a fazer. Óbvio que isso me remete a um fato interessante do meu dia-a-dia, eu, pobre aspirante a físico perseguido por forças do além que insistem em trazer as criaturas mais excêntricas (para não dizer pitorescas) para perto de mim. Nesse caso em específico, sentado do meu lado dentro do ônibus.

Quando entramos em um ônibus a caminho de casa, nós, típicos curitibanos, temos o hábito de pouco olhar ao redor. Estava eu sentado no ônibus Interbairros II, a maravilha verde da cidade de Curitiba, quando ele surgiu: calça jeans, mochila nas costas, um aparelho eletrônico com fone de ouvido (não sei que aparelho era aquele) e um ar inocente, pedindo licença para ocupar o lugar vago ao meu lado. Eu abri espaço para sua passagem, como sugerem as políticas de boa vizinhança nas ruas, mas foi inocência, juro. Começou de forma simples.

Quando ouvi o primeiro som, achei que viesse de fora do ônibus. Em seguida, achei que fosse o fone de ouvido do rapaz (essa juventude ouvindo músicas a todo o volume... francamente). Em seguida, joguei todos os meus conceitos fora, o som vinha da boca do rapaz, e ele gesticulava. Ele fazia o som de um disco sendo riscado na pick up de um DJ (e gesticulava como se o riscasse), mexia botões imaginários fazendo efeitos sonoros mirabolantes e, em seguida, começou a fazer o som de uma bateria. Obviamente não pretendo escrever os sons, mas choro o fato de meu MP3 Player não estar à disposição diante de tal cena. Ele fazia alguns sons e em seguida olhava para mim para conferir se me incomodava, então voltava ao seu devaneio musical, era um beatbox humano, solitário dentro do Interbairros II ao lado de um maldito físico de coração obscuro. Esse é um momento interessante: é comum ver 2 físicos juntos, mas 2 variedades de lunáticos tão distintas lado a lado montam um quadro de raridade imensurável. O físico e o beatbox humano. A diferença é que o físico se esconde entre a multidão. Quanto àquele rapaz? Ninguém olhava para ele, é da personalidade curitibana não dar espaço para estranhos, mas alguns se traíam e soltavam discretas risadas, sorriam para mim sugerindo que minha situação fosse por excelência embaraçadora. Não me senti embaraçado de fato, a situação até certo ponto era assustadora, mas mesmo assim, engraçada por natureza. Eu olhava ao redor, sério, um sulista autêntico, mas minha alma ria, dava gargalhadas infantis, rolava pelo chão sujo do ônibus.

Por um instante pensei: "como algo tão simples pode ser tão estigmatizado em uma sociedade dita pós-moderna... estamos de fato nos preocupando com futilidades e dando atenção excessiva à liberdade de expressão alheia". Assim que eu pensei isso, o rapaz se levantou e desceu do ônibus. Então, senti-me livre e comecei a rir, rir de fechar os olhos e curvar a cabeça para trás, ria como não ria desde o dia em que vi meu cão quebrar a janela da sala para latir para alguém que estava fora, ri como se nada mais importasse. E o povo ao redor também ria. Uma moça sentada de frente para mim sorria como criança balançando a cabeça e o rapaz ao lado comentava "que comédia!". Conversamos descontraídos sobre a loucura e a voracidade de certas pessoas em jactar, sem compromisso com o pudor e a decência, os próprios gostos musicais. Em seguida, olhei para fora do ônibus, a moça começou a mexer em sua bolsa e o rapaz ao lado começou a dormir. Que vacilo... curitibanos não devem falar com estranhos.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Pensamentos...

Há algumas noites, tive um sonho um tanto curioso: voava eu distraído por entre os fios de luz da nossa bela Curitiba quando, sem a menor vergonha na cara, uma criança me atirou uma pedra. Nesse momento, instintos primitivos do ser humano acordam e seu lado primata, que antes jogava truco com o lado intelectual, resolve assumir o controle. Não, não estou dizendo que lancei a pedra devolta contra o garoto ou que fiz com que um leão surgisse ao lado do rapaz (minha imaginação durante meus sonhos tem atitude própria), mas cheguei ao ponto máximo que minha cabeça chega em momentos extremos: comecei a filosofar a respeito de política.

Não que eu seja algum amante da política ou que aprecie o circo do plenário, apenas acordei pensando "E se o Brizola conseguisse a presidência hoje?". Confesso que não é um pensamento dos mais otimistas, mas convenhamos, o sujeito tinha estilo como político. Se você discorda, veja você mesmo:

http://www.youtube.com/watch?v=ORaObuR6dwM
http://www.youtube.com/watch?v=9QMOLP_WXJE
http://www.youtube.com/watch?v=fMbMbbfsrbQ
http://www.youtube.com/watch?v=F7x_8ZsOqvM

Entre os saudosos jogadores de pôquer (Os jogadores que perdoem se a grafia estiver errada) há aqueles que gostam dos velhos jargões, entre eles o famoso "Poker face". Contextualizando para minha realidade de universitário de Física que nada entende de Pôquer, o legítimo poker face é o cara que grita "Truco" batendo na mesa depois de fazer 2 sinais de manilha para o parceiro mas tendo à mão um quatro de ouro, um de espadas e um de copas, sendo que a carta que virou era uma dama. O poker face é o cara de pau, aquele que peida no elevador e olha pra você com olhar de reprovação (seu mal educado), o velho que comprou o serviço e não pagou (essa piada é para os que gostam do youtube, não vou baixar o nível do palavreado), o cão que baixa a orelha e pula na sua perna pedindo carinho após roer seu chinelo. Talvez ele não fosse um cara de pau descarado como certo governador que xinga quem protesta contra o nepotismo, mas ele tinha uma veia artística quando o assunto era se pronunciar em público, ele tinha um personagem "político honesto" muito bem incorporado, uma forma de dizer "vá à merda" que é digna dos grandes imperadores romanos, uma classe que a Pantera cor-de-rosa sempre sonhou ter.

Imaginei como seria incrível ver na televisão o homem que roubou meu imposto dizer "eu não me conformo com a sua falta de tino" dirigindo-se ao repórter 'cretino', quase me convencendo de que o Brasil é um país realmente em desenvolvimento. E graças a ele, lógico. Em seguida, imaginei a tragédia que seria se o homem aranha tivesse surgido em Curitiba... ele jogaria sua teia sobre um prédio, balançaria e se jogaria, lançando a teia no próximo arranha-céu. Mas não haveria arranha-céu. Ele tomaria um belo de um pacote, espalhando pedaços por aí e deixando a encargo do piá de prédio que andava à lan house o trabalho de tirar-lhe a máscara de descobrir que ele era, na verdade, um fotógrafo free-lancer. Sim, um fotógrafo free-lancer curitibano, ele moraria com os pais ou passaria fome. Mas enfim, concluí que, quando eu acordo, minha imaginação também assusta.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Terminal do Pinheirinho

Assumo que estou impressionado. Costumo tratar a vida a sangue frio, levantar a sobrancelha esquerda (pois esqueci como se faz para levantar ambas simultaneamente) quando um fato extraordinário se exibe despudoradamente em frente aos meus inocentes olhos, mas, quando você dá de cara com a vida dançando com um guarda-chuva bege ao som de "My boy lollipop" com uma coreografia genérica que se pode, facilmente, encaixar na "Egüinha Pocotó", você pára para reavaliar seus valores e conceitos.

Não estou falando de um programa televisivo mau-humorístico escraxado e repleto de mulheres de grandes seios falando coisas sem sentido (com risadas programadas ao fundo), estou falando do pequeno-trágico-cômico drama da existência, o fundo do poço da sociedade pós moderna, o limite do sistema linfático, o fim da linha, a queda da ponte de Tacoma, o discúrso político inflamado em pról das comunidades carentes ("ahhh, como eu amo o meu povo que sofre). Enfim, estou falando de uma cena que vi esses dias. Não uma cena totalmente extraordinária, como o ônibus que patinou e atropelou o poste com a traseira ante-ontem, algo mais baixo, mais próximo dos pequenos dramas da classe média-baixa.

Direto às vias de fato: estava eu andando em companhia de meu caro amigo e colega de faculdade, Martynetz, à entrada do terminal do Pinheirinho. É impressionante a capacidade que um fato tem de terminar em outro: começou semanas antes inocentemente com uma catapulta, um mero lançador de projéteis, saíamos da oficina que nos foi oferecida de favor e andávamos a caminho do lar (cada um do seu, que fique claro). O homem se achega ao cobrador e se dirige dizendo coisas estranhas. Penso comigo mesmo "Nossa, um gringo por aqui" e reflito sobre a versatilidade do estrangeiro que pega ônibus dentro de nossa bela cidade apesar da bagunça (a mesma bagunça que posicionou o terminal do pinheirinho no Capão Raso e o do Capão Raso no Novo Mundo), quando noto que não se tratava de um estrangeiro, e sim de outro tipo de pessoa distante. As palavras que me faziam recordar o portanhol de Foz do Iguaçu eram, na verdade, frutos de uma língua enrolada, uma dificuldade de dicção muito comum entre nossos nobres camaradas que estão num estágio de ignorar nosso mundo para atentar ao mundo das maravilhas, esses que riem da simplicidade da vida e que choram do fundo da alma: os bêbados. O rapaz estava encachaçado, de caneco torto, mais pra lá do que pra cá, totalmente alcoolizado, dizendo um oi pra tia falecida, pensando em clamar pelo amigo Hugo. Ele deu o dinheiro dizendo palavras que o bebê diz quando está aprendendo a falar, aquele emaranhado de vogais e consoantes desconexas que, para ele, faziam todo o sentido. Recebeu seu troco e levantou a perna para dar um passo e, não me pergunte como, pareceu um efeito especial, ele chutou a catraca e fez com que ela girasse sozinha. Não foi um chute comum, não como a criança que dá seu primeiro chute na bola de futebol e cai pra trás, mas sim um chute com estilo: o bebum deu um legítimo RoundHouseKick digno de nosso saudoso e desaparecido Chuck Norris. Se tivesse parado por aí, tudo bem, até que seria uma situação incomum, mas se tornou completamente inusitada e fora do padrão aceitável: ele tentou passar da roleta em seguida, e notando que não conseguiria (percebendo também, note que sagaz, que o cobrador não pretendia apertar o botão novamente), estendeu suas duas mãos como quem pede água, mas certamente esperando seu dinheiro devolta. Não o culpo, já vi cenas mirabolantes vindas de ébrios sem dosagem do que bebem, já vi discussões alucinadas sobre sexualidade e política dignas de crônicas completas, discussões fervorosas com postes e placas, mas ainda não tinha visto tamanha façanha marcial. Ele chutou a catraca e pediu o dinheiro devolta, como o sábio Nazurujim que não pagou a coxinha que levava porque não a comeu. Fico imaginando se aquele chute não se tratava, na verdade, de algum tipo de demonstração de habilidade, como os antílopes se cabeceando impetuosamente para impressionar a fêmea, mas sem a parte da fêmea, mas não... era um belo e distinto feito etílico, uma cena condecorável e digna de ovacionações (como foi pelas risadas da dupla de físicos que ainda esperava a chance de atravessar a catraca). Um épico do corriqueiro.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Apresentação

Aqui está um novo Blog. Algum fariseu perguntaria "mas afinal, qual sua intenção, herege?", eu respondo "Nada a não ser falar". O mero prazer de expor opiniões, escrever o que dá na telha e falar despudoradamente, sem o compromisso com as boas maneiras verbais e sem a intenção de ser puramente irônico em textos sem sentido. Não pretendo abandonar meu antigo Blog, que fique claro. Pretendo convidar gente a enriquecer esse reduto da mais útil cultura inútil que essa rede internacional já conheceu, por isso assinei esse post.

Não inicio esse ponto cego da Internet para passar lições de moral ou contribuir para que a sociedade abandone seus paradigmas, estou apenas olhando para as feridas de uma civilização decadente, apontando e rindo como uma criança desocupada que nada tem com o que se preocupar. Lógico, com a diferença de que estou cursando Eletromagnetismo, Mecânica Clássica, Física Moderna e Cálculo ao mesmo tempo. De qualquer forma, minha mente continua sendo a de uma criança desocupada. Como diria eu mesmo, "uma vez piá de prédio, sempre piá de prédio".

Então pode chegar algum engenheiro e perguntar "Por que o design obscuro?" Não, eu não escolhi um 'design' obscuro, apenas peguei um layout pronto do Blogger e sobre ele deposito essas torpes linhas. Se não gostou o layout... pena, eu gostei. Mas, qualquer coisa, dirija-se ao nosso setor de reclamações e, lá, serás atentido com toda a atenção e dedicação de nosso 'telemarketing' terceirizado. A música é tango, você vai gostar.