quinta-feira, 20 de março de 2008

Interbairros II (II)

Eu estava realmente curioso para saber quais eram os 40 vídeos que estavam no meu orkut, afinal, eu não pus tantos assim. Saí olhando um a um e citando-os mentalmente "Bom... uhum, esse é legal também... divertido... hehehe, sacanagem" e assim por diante, até que cheguei à última página de vídeos. Adivinha? Ao invés de uma página contendo os vídeos de 36 a 40, era uma página de 16 a 20. Superfaturamento? Caixa 2 de vídeos? Será que o Orkut declara imposto frio e precisa de números diferentes? Será que eles precisam atingir alguma meta governamental educacional e só duplicam o número para convencer o povo de que há mais vídeos para a campanha? Seja lá como for, foi curioso. Mas esse assunto ignóbil que provém das patranhas alheias me traz devolta ao reduto do inimaginável, aquele famoso lugar onde tudo é possível, onde você encontra todos os tipos de pessoas, de todas as classes. Lá onde você experimenta as emoções mais incomuns com freqüência notável, sonha com a compra de um carro, dá graças a Deus quando sai e, mesmo assim, volta no dia seguinte. Duas vezes. Sim, estou falando do Interbairros II, a grande máquina de transporte, o vulgo verdão.

Dentro desse ônibus você sempre pensa estar preparado para qualquer coisa, mas sempre se surpreende por uma série de motivos: ele passa em frente ao Centro Politécnico, ou seja, recolhe os alunos de Física (isso fala por si só) e passa por cantos dos mais variados da cidade, desde o Cabral até o Capão Raso. E era lá que eu estava quando outra pitoresca me aconteceu...

A bordo do ônibus havia uma série de pessoas, entre elas Martynetz (meu nobre camarada físico), Daniel (aquele da pilha) e eu (eu mesmo), o trio que se entretem por muitas vezes em conversas das mais relevantes como, por exemplo, o formato dos processadores da década de setenta e etc. E estávamos em uma bela conversa sobre clocks e bitrates quando eu, perceptivo que sou, passei a observar o ambiente: o ônibus estava parado e as pessoas discutiam. Teria alguém lançado a semente da discórdia dentro de tão venerável ambiente? Passei a observar atentamente a conversação alheia até que, sublime em meus sentidos e capacidade de dedução, anunciei com o garbo condizente à força representada pelo fato ocorrido ao nosso redor: "Cara, o ônibus foi assaltado!".

Sim, entrou um homem com uma arma à cintura acompanhado de outro que tinha uma língua à boca e falava. Ao que tudo indica, ele se dirigiu aos passageiros da frente e interlocutou no sentido de que eles deveriam "entregar tudo que tinham ou tomavam bala". Também se comunicou com o motorista, solicitando uma parada no próximo ponto para que ele e seu companheiro descessem. Enfim, tudo muito rápido.

Os físicos falavam a respeito de assaltos agora. O ônibus falava sobre assaltos e o motorista falava ao telefone sobre assaltos para a polícia. "é necessário aguardar para fazer o Boletim de Ocorrência" disse o cobrador, ao passo que o rapaz ao meu lado dizia "Tá, como não me roubaram nada, eu vou descer e esperar o próximo ônibus. Pensava eu sobre o egoísmo das pessoas, alguns foram roubados, outros estava preocupados em chegar logo em casa para descansar. Absurdo. À chegada do próximo ônibus, corria eu para a porta.

Curioso não era o fato de o ônibus seguinte ficar cheio das pessoas que 'sobreviveram' ao assalto (deixando os assaltados, o motorista e o cobrador sozinhos), mas sim as conversas ouvidas no caminho. Tão interessantes que voltamos a falar sobre os processadores. Eu tinha pensado em algum ensinamento bonito acompanhado de uma lição de moral pra tirar dessa história, mas eu esqueci. Nesse caso, fica só a história mesmo.

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