Vou ser franco, tanto quanto o possível: eu não gosto de padrões. Não gosto da etiqueta, não gosto do marketing musical e, por vezes, não gosto dos bons costumes. Aceito tudo isso e até mesmo uso, mas questiono-lhes a utilidade. Mas acho que até para essa rebeldia existe um limite. Existe um ponto que o desprezo dos padrões passa a ser um padrão, o sujeito não se preocupa mais com o fato de padrões atrapalharem sua vida, mas se preocupa em simplesmente não ter padrões, conseqüentemente, atrapalhando a própria vida. Não gostaria de citar nomes pois acho isso muito feio (Marilyn Manson), mas acredito que muita gente saiba o que eu quero dizer.
Mas existe um lado interessante da moeda: a pessoa que não se preocupa em combater padrões, ela apenas não os tem, apresentando um comportamento pouco peculiar, a exemplo do cara que teve a idéia brilhante de entrar para o curso superior de Física ("Eu adoro Física!"). Falo de gente que não se preocupa com a opinião dos outros na rua, não se preocupa com a opinião de seus pais, não se preocupa com a opinião do chefe no trabalho, não se preocupam com a própria opinião, apenas fazem aquilo que surge-lhes a fazer. Óbvio que isso me remete a um fato interessante do meu dia-a-dia, eu, pobre aspirante a físico perseguido por forças do além que insistem em trazer as criaturas mais excêntricas (para não dizer pitorescas) para perto de mim. Nesse caso em específico, sentado do meu lado dentro do ônibus.
Quando entramos em um ônibus a caminho de casa, nós, típicos curitibanos, temos o hábito de pouco olhar ao redor. Estava eu sentado no ônibus Interbairros II, a maravilha verde da cidade de Curitiba, quando ele surgiu: calça jeans, mochila nas costas, um aparelho eletrônico com fone de ouvido (não sei que aparelho era aquele) e um ar inocente, pedindo licença para ocupar o lugar vago ao meu lado. Eu abri espaço para sua passagem, como sugerem as políticas de boa vizinhança nas ruas, mas foi inocência, juro. Começou de forma simples.
Quando ouvi o primeiro som, achei que viesse de fora do ônibus. Em seguida, achei que fosse o fone de ouvido do rapaz (essa juventude ouvindo músicas a todo o volume... francamente). Em seguida, joguei todos os meus conceitos fora, o som vinha da boca do rapaz, e ele gesticulava. Ele fazia o som de um disco sendo riscado na pick up de um DJ (e gesticulava como se o riscasse), mexia botões imaginários fazendo efeitos sonoros mirabolantes e, em seguida, começou a fazer o som de uma bateria. Obviamente não pretendo escrever os sons, mas choro o fato de meu MP3 Player não estar à disposição diante de tal cena. Ele fazia alguns sons e em seguida olhava para mim para conferir se me incomodava, então voltava ao seu devaneio musical, era um beatbox humano, solitário dentro do Interbairros II ao lado de um maldito físico de coração obscuro. Esse é um momento interessante: é comum ver 2 físicos juntos, mas 2 variedades de lunáticos tão distintas lado a lado montam um quadro de raridade imensurável. O físico e o beatbox humano. A diferença é que o físico se esconde entre a multidão. Quanto àquele rapaz? Ninguém olhava para ele, é da personalidade curitibana não dar espaço para estranhos, mas alguns se traíam e soltavam discretas risadas, sorriam para mim sugerindo que minha situação fosse por excelência embaraçadora. Não me senti embaraçado de fato, a situação até certo ponto era assustadora, mas mesmo assim, engraçada por natureza. Eu olhava ao redor, sério, um sulista autêntico, mas minha alma ria, dava gargalhadas infantis, rolava pelo chão sujo do ônibus.
Por um instante pensei: "como algo tão simples pode ser tão estigmatizado em uma sociedade dita pós-moderna... estamos de fato nos preocupando com futilidades e dando atenção excessiva à liberdade de expressão alheia". Assim que eu pensei isso, o rapaz se levantou e desceu do ônibus. Então, senti-me livre e comecei a rir, rir de fechar os olhos e curvar a cabeça para trás, ria como não ria desde o dia em que vi meu cão quebrar a janela da sala para latir para alguém que estava fora, ri como se nada mais importasse. E o povo ao redor também ria. Uma moça sentada de frente para mim sorria como criança balançando a cabeça e o rapaz ao lado comentava "que comédia!". Conversamos descontraídos sobre a loucura e a voracidade de certas pessoas em jactar, sem compromisso com o pudor e a decência, os próprios gostos musicais. Em seguida, olhei para fora do ônibus, a moça começou a mexer em sua bolsa e o rapaz ao lado começou a dormir. Que vacilo... curitibanos não devem falar com estranhos.
Mas existe um lado interessante da moeda: a pessoa que não se preocupa em combater padrões, ela apenas não os tem, apresentando um comportamento pouco peculiar, a exemplo do cara que teve a idéia brilhante de entrar para o curso superior de Física ("Eu adoro Física!"). Falo de gente que não se preocupa com a opinião dos outros na rua, não se preocupa com a opinião de seus pais, não se preocupa com a opinião do chefe no trabalho, não se preocupam com a própria opinião, apenas fazem aquilo que surge-lhes a fazer. Óbvio que isso me remete a um fato interessante do meu dia-a-dia, eu, pobre aspirante a físico perseguido por forças do além que insistem em trazer as criaturas mais excêntricas (para não dizer pitorescas) para perto de mim. Nesse caso em específico, sentado do meu lado dentro do ônibus.
Quando entramos em um ônibus a caminho de casa, nós, típicos curitibanos, temos o hábito de pouco olhar ao redor. Estava eu sentado no ônibus Interbairros II, a maravilha verde da cidade de Curitiba, quando ele surgiu: calça jeans, mochila nas costas, um aparelho eletrônico com fone de ouvido (não sei que aparelho era aquele) e um ar inocente, pedindo licença para ocupar o lugar vago ao meu lado. Eu abri espaço para sua passagem, como sugerem as políticas de boa vizinhança nas ruas, mas foi inocência, juro. Começou de forma simples.
Quando ouvi o primeiro som, achei que viesse de fora do ônibus. Em seguida, achei que fosse o fone de ouvido do rapaz (essa juventude ouvindo músicas a todo o volume... francamente). Em seguida, joguei todos os meus conceitos fora, o som vinha da boca do rapaz, e ele gesticulava. Ele fazia o som de um disco sendo riscado na pick up de um DJ (e gesticulava como se o riscasse), mexia botões imaginários fazendo efeitos sonoros mirabolantes e, em seguida, começou a fazer o som de uma bateria. Obviamente não pretendo escrever os sons, mas choro o fato de meu MP3 Player não estar à disposição diante de tal cena. Ele fazia alguns sons e em seguida olhava para mim para conferir se me incomodava, então voltava ao seu devaneio musical, era um beatbox humano, solitário dentro do Interbairros II ao lado de um maldito físico de coração obscuro. Esse é um momento interessante: é comum ver 2 físicos juntos, mas 2 variedades de lunáticos tão distintas lado a lado montam um quadro de raridade imensurável. O físico e o beatbox humano. A diferença é que o físico se esconde entre a multidão. Quanto àquele rapaz? Ninguém olhava para ele, é da personalidade curitibana não dar espaço para estranhos, mas alguns se traíam e soltavam discretas risadas, sorriam para mim sugerindo que minha situação fosse por excelência embaraçadora. Não me senti embaraçado de fato, a situação até certo ponto era assustadora, mas mesmo assim, engraçada por natureza. Eu olhava ao redor, sério, um sulista autêntico, mas minha alma ria, dava gargalhadas infantis, rolava pelo chão sujo do ônibus.
Por um instante pensei: "como algo tão simples pode ser tão estigmatizado em uma sociedade dita pós-moderna... estamos de fato nos preocupando com futilidades e dando atenção excessiva à liberdade de expressão alheia". Assim que eu pensei isso, o rapaz se levantou e desceu do ônibus. Então, senti-me livre e comecei a rir, rir de fechar os olhos e curvar a cabeça para trás, ria como não ria desde o dia em que vi meu cão quebrar a janela da sala para latir para alguém que estava fora, ri como se nada mais importasse. E o povo ao redor também ria. Uma moça sentada de frente para mim sorria como criança balançando a cabeça e o rapaz ao lado comentava "que comédia!". Conversamos descontraídos sobre a loucura e a voracidade de certas pessoas em jactar, sem compromisso com o pudor e a decência, os próprios gostos musicais. Em seguida, olhei para fora do ônibus, a moça começou a mexer em sua bolsa e o rapaz ao lado começou a dormir. Que vacilo... curitibanos não devem falar com estranhos.
Um comentário:
Adorei o seu texto! Muito bem escrito, muito inspirado.
Como curitiboca que sou, me identifiquei muito com a descrição e ponto de vista sobre os nossos costumes.
Posso apenas sonhar em escrever como você. =]
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