sexta-feira, 25 de julho de 2008

Centro (algum lugar entre o Círculo Militar e a Praça Carlos Gomes)

Estudiosos do comportamento animal sabem há muito tempo que, entre os sexuados, muitas atitudes (desde o canto do galo à cauda do pavão) remetem à boa oportunidade da relação com o sexo oposto. Freud (dizem as más línguas) tinha um tino especial para encontrar cunhos pejorativamente sexuais nas atitudes alheias, os historiadores, em maioria, concordam que uma das grandes influências políticas da antiga Grécia era exercida por prositutas, a igreja medieval maculou o sexo como pecado para controlar a população de alguma forma e até mesmo os eruditos da sabedoria popular concordam que tudo gira em torno do sexo. Isso evitando usar o vocabulário popular para tal afirmação.

Contrariando as tendências naturais impostas por nossas forças animais, existem também aqueles que, por alguma via ininteligível do destino, contrariando a evolução e os instintos animais, dotados de algum ensinamento sugerido pela nova etiqueta e de uma fofura incomum, se aproximam do sexo oposto com a mera intenção de uma interação amistosa sem cunhos reprodutivos ou despudorados, praticantes do tradicional "beijo no rosto", "abraço gostoso" e das trocas incontroláveis de informações (fofocas), uma relação outrora praticada apenas entre seres do mesmo sexo conhecida vulgarmente como "amizade (e nada mais, entendeu?)". Incomum especialmente entre os homens, tal comportamento é sempre gerador de comentários jocosos (ih, olha lá, o João tá sempre visitando a tal da Maria, hihihi), especialmente entre círculos de amigos (que normalmente só pensam em sexo), rodas de conversa no bar (que geralmente têm em suas atas longas discussões - às vezes não amistosas - sobre sexo), pais puritanos (um eufemismo que, in facto, trata de pais que sempre enxergam sexo nas atitudes alheias) e, principalmente, entre as amigas da menina que tem a amizade com o rapaz.

Comumente taxados de homossexuais, assexuados ou fofos, esses homens nada mais são que um acidente estranho da evolução social. E muitas vezes as mulheres esquecem que estes homens não são, de fato, assexuados, e não devem passar por certas provações (mas isso poderia ser assunto para um conto inteiro). Em resumo, mesmo sendo heterossexuais, esses amigos fofos não querem necessariamente te comer se te chamam para sair como amigos. Mas certamente não se ofenderão caso você os apresente aquela amiga bonita e solteira... mas isso não é uma sugestão, longe de mim. Quero relatar, com isso, outra curiosa seqüência de fatos que se passa com Flubber, o pobre físico observador do mundo real.

Flubber, como todo bom amigo fofo, tem o hábito de encontrar algumas amigas com uma pequena freqüência para a boa e tradicional troca verbal de idéias, a mais elaborada e eficiente forma de transferência de conteúdo jamais desenvolvida pela sociedade ao longo das eras. E esse era outro passeio, assim como o anteriormente citado passeio com De Lara. Dessa vez não trato de De Lara, mas de De Souza, uma grande pequena amiga com uma queda incomum por cafés e caminhadas pelo centro da cidade. Dessa vez, experimentamos um desafio de xadrez. Não que sejamos bons praticantes do tradicional esporte mental, mas apenas queríamos colocar à prova nossas rígidas habilidades cognitivas (e talvez dar motivo para os espectadores terem algum momento para rir). Duas partidas e ambos estávamos esperando ansiosamente pelo quebra jejum. A derradeira partida de desempate ficou para uma próxima oportunidade (afinal, Flubber leva quase cinco minutos para pensar cada jogada).

Quebrada a concentração dos bravos praticantes do jogo de tabuleiro, os assuntos variavam. Partiam da força popular no exercício de seu poder de influência ao grave julgo que representam os sentimentos instintivos para a boa interação social, do esforço humano em manter sua delicada onipotência sobre a natureza ao local onde realizar o lanche. Dentre todos os assuntos discutidos, o único que obteve alguma solução era o que tratava sobre o que comer. Bolachas doces para uma longa conversa na praça pareciam atraentes. Na famosa "praça do relógio" (nome popular para a praça cujo nome sempre esqueço de pesquisar por pura preguiça), a conversa tomou o rumo mais pessoal. Ali, os amigos conversam sobre suas questões pessoais (e sobre sexo, inevitavelmente). A vida assume um aspecto difícil de entender quando visto de olhos externos. Comentários como "Ele não pode casar, isso não se faz", quando tratando de um ex namorado, leva a imaginação do interlocutor a extremos, desde a preocupação da amiga com o compromisso prematuro de seu ex companheiro até o ciúme tradicional da ex namorada. Como ela certamente lerá esse texto, não direi qual das opções, ao meu ver, melhor corresponde à situação (não vou dizer que eu tenho certeza que é a segunda opção). As atuais companheiras dos rapazes por ela citados também receberam sua parcela de atenção ("ui, ele chama ela de bebê! Que nojo! Tudo bem ser fofo com a namorada... mas pô, bebê? Ele não precisa chamar assim!"). Obviamente Flubber citou fatos com ele decorridos, mas como o blog pertence a ele, ele tem a opção de não citá-los. Reclamações podem ser encaminhadas nos comentários do blog com remetente para a resposta (que algum dia será enviada caso os correios, o governo, o clima e a minha disposição colaborarem).

Nova caminhada sem destino e nova discussão inflamada sobre o lugar do próximo lanche e fomos a uma lanchonete (dessas franquias bonitas e coloridas que esquecem de limpar a mesa antes de servir, demoram para atender e cobram dez por cento pelo atendimento). Esfirras, um pastel, um suco de manga e um salgado cujo nome esqueci (mas tinha queijo cremoso... hummm). E, obviamente, novas conversas sobre ex namorados (as) (e o sexo rodeia o mundo afinal, inclusive as conversas com os amigos fofos). Obviamente quem mais sofre novamente é a atual de algum ex ("Ela tem uma foto no orkut comendo churros... que gorda ela!") e com certeza comentários a respeito de assuntos de Flubber (vale a mesma máxima anteriormente citada). Paga a conta e perdido algum tempo à mesa ("Eu acho um absurdo os dez por cento"), a dupla estava pronta para outra caminhada. Pouco originais, retornaram à Rua XV de Novembro para mais divagações ("Quantos emos! Tá me dando coceira" "Ai, Flubber, que horror! Não fala assim!") e para a espera do famoso maracatu da universidade (que não apareceu, talvez por atraso nosso, talvez pela procrastinação, a constante influência da popular "vadiagem"). Cansados da espera (e Flubber cansado de ver emos), resolveram que era hora de retomar a estrada, afinal, as beiradas dos pequenos cercados de flores não é muito anatômica para ser usada como banco. "Um capuccino?", e Flubber reflete que talvez nem tudo no mundo gire em torno de sexo afinal. (Eu ganhei chocolate *.*)

Ao café, um bom e velho capuccino rega outra fervorosa conversa sobre a vida alheia ("Ah, ele era loiro, alto, de olhos verdes e fazia física... mas pode parar de se achar, Flubber, não é você" "Ué, porque eu acharia que era eu? *sorriso desaparecendo*"). Mais alguns minutos de conversa, outra conta paga e novamente pé na estrada, dessa vez um ônibus com destino bem definido (ao contrário das caminhadas anteriores). Ao terminal do Cabral, a despedida, e Flubber volta para seu lar (carregado de bombons que o conferiam um sorriso incomum). Agora um banho para eliminar o cheiro de cigarro e a esperança de que De Souza não o mate pelo conto (nem venha com a péssima notícia de que seu nome não é De Souza... Flubber, Flubber, troque de cérebro).

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Rua Bôrtolo Gusso

Dizem alguns teólogos que há um período de 400 anos que precedem o novo testamento da Bíblia durante os quais houve pouca ou nenhuma manifestação divina entre o povo de Deus. 400 anos de silêncio. Ou talvez 400 anos não registrados. De qualquer forma, 400 anos não anotados para o cristianismo, são 400 anos e, mesmo assim, as religiões derivadas do judaísmo não perderam seus adeptos. Infelizmente, em um blog as coisas não funcionam assim... um mês sem postagens culmina em uma redução significativa no número de espectadores e no interesse dos remanescentes. Enfim, contrariando as expectativas de muitos, aqui estou eu novamente, de férias e com outro conto de veracidade duvidosa para contar.

Como de costume, o fato aqui narrado demonstra a riqueza cultural de nossa modesta sociedade e, acima de tudo, o tino e a boa educação constantes das nossas efetivas políticas de boa vizinhança. E, como de mais costume ainda, o fato aqui narrado foi flagrado indecorosamente por meus inocentes sentidos.

A Rua Bôrtolo Gusso é, sem sombra de dúvida, uma excelente referência: É atravessada por mais de cinco linhas de ônibus, liga a Avenida Brasília ao Fim do Mundo, uma nobre região, habitada por diversos sobrados, condomínios, favelas e pelo Flubber, sendo que todos os moradores dessa região dependem dessa rua. Certamente uma rua de vital importância e relevante significância para alguns; pena que o resto da cidade sequer sabe que ela existe.

Em uma rua de tamanha movimentação e importância, levando em conta toda a sensatez de nosso povo curitibano e o fato de o Interbairros II passar por ali, podemos também andar preocupados com situações embaraçosas e inusitadas, como manifestações da boa educação regional, motoristas de final de semana aventureiros em uma segunda feira, vendas de DVDs piratas em saída de mercado, viaturas policiais preocupadas com o bom cumprimento da lei e abordagens políticas de filho de candidato político (afinal, ele vai pintar o muro da sua casa com uma propaganda e depois passa uma demão de tinta, vai ficar como novo). Apesar de tão vasta gama de eventos e figuras presentes em tão respeitosa rua, certamente os mais impressionantes são os nobres e cultos "playboys", o patriciado do Capão Raso, os filhos da nobre burguesia e os proprietários dos carros legais e dos cérebros mais avantajados, e algumas moças que transitam periodicamente pela região.

Esse, como muitos outros, era o carro de um playboy. Uma característica playboy bastante ostensiva é, sem sombra de dúvidas, a ansiedade e o esforço em manifestar suas opiniões a respeito de problemas a eles alheios, críticas construtivas de caráter geral com o simples intuito de ajudar e enriquecer, compartilhando de forma autruísta o conteúdo guardado com tanto esmero em suas mentes divagadoras, caçadoras da nobre cultura e da produção intelectual. O fato que narro aqui é proveniente de um momento desse porte.

E desço eu do ônibus e ando a caminho de minha casa. Uma noite tranqüila na rua Bôrtolo Gusso, como muitas outras. Um grupo de moças caminhava e conversava descontraidamente e um carro vinha da mesma direção. Ao passar pelas moças, o rapaz, motorista do carro, tal como o passageiro a seu lado, exibiam sua bela e sonora buzina, acompanhando o harmonioso som com seus comentários portados da sabedoria secular da grande cidade. Diziam eles "Vem me fazer um , suas vadias!", ao que as moças, prontamente, contagiadas pela originalidade do comentário, diziam "Não sou sua mãe, seu idiota!". O carro se afasta com mais buzinas e mais comentários dotados da sutileza típica da pessoa de cultura. Não posso negar que a comunicação verbal é uma das maiores dádivas que o intelecto humano já fora capaz de desenvolver, possibilitando a troca de experiências e de conhecimentos de uma forma abstrata e eficaz. Não tenho dúvidas de que moro em uma cidade de elevada cultura, uma verdadeira Europa brasileira.