quarta-feira, 4 de junho de 2008

Reitoria

Em uma breve jornada pela saudosa reitoria de minha universidade, qualquer um se impressiona facilmente com o curioso e assombroso número de figuras excêntricas de todas as formas possíveis e imagináveis (que me levam a refletir.. será que são os físicos que são realmente loucos?). Não era de se esperar que esse fosse o palco de eventos inusitados, para não dizer 'estranhos'. Não falo de grandes eventos, como as manifestações intermitentes (e reincidentes) que os ocupadíssimos alunos de certos cursos realizam. Falo das pequenas calamidades do cotidiano, as banais desventuras da intelectualidade acadêmica... enfim, o diário do verdadeiro antro da loucura.

E assim começou mais um momento de reflexão... um breve passeio pelo quinto andar do prédio mais baixo. Ia eu distraidamente ao toalete para, como de costume, liberar os restos de meu metabolismo celular, tal como os sais minerais em excesso, todos contidos no reservatório da bexiga. Em suma, o velho e saudoso número 1. O que você encontra no banheiro? O de sempre: um espelho, uma pia e uma privada, pelo menos. Por mais que as quantidades variem e que o banheiro tenha artigos de luxo (como sabonete, papéis toalha e higiênico e lixeiros), essas são as peças comuns. Banheiros originais trazem recados sobre o desperdício de água e alguns, mais ousados, sobre a pontaria do usuário do cômodo. Aquele banheiro, em específico, tinha uma peculiaridade que trazia um aviso assaz original.

A peculiaridade era bastante simples: a entrada para o banheiro era de frente para as cabines onde ficam as privadas. Conseqüência: caso você tenha enjoado das pixações das paredes e portas (com telefones e recados libidinosos em geral), você pode observar a movimentação pela porta de saída. A inversa também é verdadeira: transeuntes no corredor poderiam, se olhassem para dentro, ver o usuário da privada sentado em seu momento sagrado, examinar a situação e até mesmo acenar ou manifestar apoio. Por considerar tal possibilidade um grave inconveniente, alguém postou uma folha com os dizeres "AO ENTRAR, FAVOR FECHAR A PORTA". Sim, isso resolve as coisas: fechar a porta.

Não suficiente a ironia que o recado já me sugeria, alguma figura de imaginação perturbada e aflorada completou, a caneta, com os dizeres "E ao sair, abrir". Me fez bastante sentido, de fato. Apesar de não estar explicitada a ordem dos fatos (primeiro sair ou primeiro abrir?), a intuição permite a conclusão o resto. É fácil de entender como outros engraçadinhos, possuídos de uma originalidade imensurável, começaram a escrever complementos por perto, mas isso não estragou a glória da imaginação do primeiro descupado.

Certamente, como qualquer outro conto meu, este me leva a refletir sobre a vida em sociedade, o cotidiano acadêmico, a prontidão de certas pessoas para a inutilidade e, com certeza, como sempre, a respeito da inflação da criatividade humana durante sua estadia em uma privada de uso público. Mas ao invés de escrever mais, limito-me, como de costume, a cortar o assunto por aqui, antes que a brincadeira fique excessivamente fétida e fecal.